E SE A MÃE FOSSE NEGRA?

A atriz Giovanna Ewbank disse que a racista que agrediu seus filhos em Portugal merecia um soco. Foi a sua reação de fúria e desespero.

Mas vamos imaginar o que aconteceria se ela dissesse a mesma coisa e se a racista fosse brasileira e a agressão tivesse acontecido no Rio, e não na Costa da Caparica, em Portugal. Seria mais complicado.

E vamos imaginar agora que a mãe das crianças não fosse uma atriz branca, mas uma negra moradora da Rocinha, e que a racista fosse uma grã-fina da Barra da Tijuca.

A racista acusaria a mãe negra. E a mãe, e não a racista, poderia ir parar na delegacia. Não por ter dado o soco ou um tapa, mas por ter sugerido que daria, porque a racista chamou seus filhos de “pretos imundos”.

É o que aconteceria aqui. A mãe seria acusada de violência. Porque aqui grandes racistas, grandes sonegadores e grandes bandidos com conexões com a direita e a extrema direita são mais impunes do que os milicianos, os grileiros e os garimpeiros aliados dos Bolsonaros.

No Brasil, a situação é tão esdrúxula que a Justiça, que sempre sabe onde moram negros e pobres, para levar adiante processos pelo furto de um pacote de massa Miojo, não consegue localizar Nelson Piquet.

Um oficial de Justiça anda há dias atrás do paradeiro do motorista de Bolsonaro, para notificá-lo do processo por racismo e homofobia contra Lewis Hamilton.

A Justiça localiza com facilidade moradores negros e pobres da Rocinha, do Vidigal, da Mangueira, do Salgueiro, mas não consegue localizar o bacana que tentou desqualificar Hamilton.

No Brasil, racista rico sempre se beneficia da controvérsia sobre o que é um crime de racismo e o que pode ser um crime de injúria racial.

Racista no Brasil é um criminoso quase sempre impune.