ESTA CAPA É HOMOFÓBICA?

O bolsonarismo aciona debates em todas as áreas. O de hoje talvez não existisse se o personagem não fosse mais um candidato a protagonista no poder da extrema direita.

A capa da Ilustrada da Folha com Mário Frias, novo secretário especial da Cultura, tirou o foco das questões recorrentes envolvendo o governo Bolsonaro.

A capa é homofóbica? Muita gente está dizendo que é. Vi a capa pela manhã e até curti, admito, textos no Face book que pegaram carona no tom de deboche.

Depois, já mais acordado, fui alertado para a suspeita de machismo e homofobia. Derruba a foto ou não derruba? Troca por uma com roupa?

É um debate complicado. Porque a Folha usa uma imagem de alguém fotografado à vontade, aparentemente alheio a preconceitos, contra o próprio fotografado.

É evidente que a Folha brinca com as metáforas (vamos chamar assim) rasas e machistas de Bolsonaro, que associa relações políticas a sexo, namoro, casamento.

A foto é jogada na cara de Bolsonaro e dos filhos homofóbicos. E a polêmica talvez não existisse se não fosse o título escolhido.

A ironia também leva em conta que o sujeito não é um conservador fingindo ser descolado. O cara é um adulador do fascismo bolsonarista, um ultrarreacionário.

O que não elimina a possibilidade de abordagem da capa como uma provocação preconceituosa e homofóbica. O debate é bom porque muda um pouco a pauta.

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Publico abaixo o texto de um amigo que admiro, o jornalista Vitor Necchi. Tirei do perfil dele no Face book.

É uma contribuição para elevar o debate:

“A naturalização do preconceito é algo tão perverso que escapa ao olhar de muita gente.

A Folha de São Paulo publicou uma foto do novo secretário nacional da Cultura sem camisa, deitado, com parte da bunda aparecendo.

Título: “O novo homem do presidente”. A imagem integra um ensaio sensual que o ator fez há alguns anos.

Várias pessoas acharam engraçado, afinal, vale tudo pra criticar o presidente genocida.

Vale tudo mesmo? Até mesmo reverberar homofobia?

Das leituras possíveis, podemos considerar que a Folha de S.Paulo foi um tanto homofóbica. Para atacar a inconsistência do novo secretário, para criar uma espécie de humor/provocação dirigido ao presidente genocida, machista, misógino, racista e que odeia gays, o jornal estabeleceu um recurso preconceituoso. “O novo homem do presidente.” De dubiedade e insinuações estamos fartos.

Não haveria nenhum problema o ator e agora secretário ser um novo homem do presidente, desde que ambos quisessem. O problema é insinuar isso para fustigar o presidente notoriamente homofóbico.

O recurso de usar homofobia para atacar um homofóbico só reforça o estigma e aprofunda a violência contra gays. Tipo: vamos fazer piada de veado, afinal, é engraçado tirar sarro de bicha.

Veados, pretos, gordos e tantos outros e outras que são alvo de preconceito aprendem desde cedo que nem tudo é motivo para brincadeira”.

2 thoughts on “ESTA CAPA É HOMOFÓBICA?

  1. Não vejo problema na publicação de uma foto, desde que o veículo de comunicação tenha as permissões legais do uso da imagem. Seu impedimento poderia configurar uma afronta ao exercício da livre expressão, como no caso da charge (genial) de aroeira. E existem proteções legais para cidadãos e cidadãs, no caso de se sentirem atacado(a)s em sua honra e dignidade.

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