ESTA É A IMAGEM DO 7 DE SETEMBRO

Dizer que essa foto é chocante é pouco. É da agência EFE e estava domingo à noite na capa da edição online do jornal argentino Página 12.

O jornal traz uma reportagem sobre a campanha liderada por Bolsonaro em meio à pandemia na América Latina contra o isolamento, a quarentena, o uso da máscara e até contra a vacina.

A foto parece ter sido tirada na viagem de Bolsonaro sábado ao interior de São Paulo. A camisa é a mesma que aparece em outras imagens.

O conjunto da foto tem muito mais do que as sempre lembradas mil palavras capazes de descrevê-la.

Tem o olhar do homem com corte de cabelo militar e a máscara com camuflagem, talvez um segurança ou apenas um militarista, porque aquele cabelo hoje é moda.

Há no seu olhar e no cenho franzido a expressão de quem torce para que tudo dê certo, mas não se sente à vontade para ajudar.

Tem a observação do sujeito que aparece de costas e também acompanha o desfecho da operação de Bolsonaro para retirar a máscara.

Não se enxerga o rosto do homem, mas ele está com a cabeça ladeada, em posição de expectativa, e é possível, sim, mesmo de costas, perceber sua expressão de quem também torce para que Bolsonaro encontre uma solução.

E há o centro da foto, com Bolsonaro tentando tirar a máscara do rosto com apenas uma mão, porque até a mão esquerda de Bolsonaro não se presta para socorrer a direita.

Uma mão direita decidida, uma mão militar, puxa o elástico preso às orelhas, como se Bolsonaro estivesse fazendo o movimento infantil de uma criança irritada que não sabe como se livrar de um adereço desconfortável.

A foto é a imagem de uma dificuldade. Há esforço, há a mão pesada de Bolsonaro tentando arrancar algo delicado e há a apreensão de quem está no entorno.

Bolsonaro tem a expressão de quem não consegue se destrinchar, mas parece estar certo de que a força é que vai desvencilhá-lo daquele desafio e do pano que o sufoca.

A máscara, que ele sempre combateu, é o estorvo que Bolsonaro não sabe usar, porque alguém o constrangeu a colocá-la no rosto.

Bolsonaro fecha os olhos, a franja escorre para a testa, o braço é tensionado. E a máscara resiste, como se tivesse criado vida só para desafiar Bolsonaro.

A foto é a prova da incapacidade de solução de algo singelo, como se Bolsonaro não tivesse visto o tutorial sobre como se livrar das máscaras. Há na foto a força da estupidez em estado bruto.

A máscara que incomoda Bolsonaro é o Brasil que ainda o desafia com o que nos resta de racionalidade. Bolsonaro não consegue se livrar do que não entende direito, por mais simples que pareça.

Essa é a imagem do nosso 7 de setembro de 2020, de um negacionista atormentado que finge nos governar e tenta se livrar, com um gesto brusco, não só de uma máscara, mas de todo o simbolismo de humanismo, respeito e civilidade que uma máscara carrega.

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