FALTA ALGO NO MANIFESTO CONTRA REGINA DUARTE

Tem representatividade de sobra o manifesto contra Regina Duarte, assinado por mais de 500 artistas e intelectuais. Estão ali os que sempre se engajam às ações pela democracia e pelas liberdades – Chico, Caetano, Renata Sorrah, Verissimo, Paulo Betti, Jorge Furtado, Rita Lee.

Tem muitos nomes da Globo. Não vi a lista completa, mas li que Marcelo Serrado e Dinho Ouro Preto, que se envolveram na pregação que levou ao golpe de agosto de 2016, assinam o manifesto.

Ninguém sabe nem vai saber qual é a dose de oportunismo e de arrependimento nessas horas, mesmo que as duas coisas de misturem.

Mas os arrependidos serão saudados sempre, desde que não venham junto com a Marta Suplicy.

Mas o que parece é que chegamos ao ponto em que, com tantos documentos, notas e manifestos, um texto como esse ou um outro assinado por qualquer agrupamento social não se diferenciam.

O manifesto tem clareza, tem síntese, mas falta algo mais. Falta contextualizar Regina Duarte no ambiente em que ela prospera como voz bolsonarista.

Faltou apontar, além de Regina Duarte, os que estão no seu entorno e que sustentam suas atitudes. Em poucas linhas.

Parece que Regina Duarte é protagonista, mas não é. Regina é uma figurante a serviço da estrutura da extrema direita apoiada por militares, banqueiros, grileiros, milicianos, latifundiários, jornalistas.

Faltou dizer de forma mais categórica que, além das artes, todas as outras áreas estão sendo destruídas pelo bolsonarismo. O povo, com ou sem CPF, está sendo destruído.

A referência quase cordial ao ‘poder público’ que agride a ciência, a imprensa e o conhecimento ficou genérica, quase que uma formalidade diluída no texto.

Podem dizer que, se fosse mais forte, muita gente não assinaria o manifesto. Mas então que assinem correntes com orações na internet.

A ÍNTEGRA DO MANIFESTO
Somos artistas brasileiros e fazemos parte da maioria de cidadãs e cidadãos que defende a democracia e apoia a independência das instituições para fazer valer a Constituição de 1988.

Fazemos parte da maioria que entende a gravidade do momento que estamos vivendo e pedimos respeito aos mortos e àqueles que lutam pela própria sobrevivência no país devastado pela pandemia e pela nefasta ineficiência do poder público.

Fazemos parte da maioria de brasileiros que não tolera os crimes cometidos por qualquer governo, que repudia a corrupção e a tortura e que não deseja a volta da ditadura militar.

Fazemos parte da maioria que não aceita os ataques reiterados à arte, à ciência e à imprensa, e que não admite a destruição do setor cultural ou qualquer ameaça à liberdade de expressão.

Como artistas, intelectuais e produtores culturais, formamos a maioria que repudia as palavras e as atitudes de Regina Duarte como Secretária de Cultura. Ela não nos representa.

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Alguns nomes que assinam o manifesto:

Os atores Adriana Esteves, Alice Braga, Ana Lúcia Torre, Cauã Raymond, Malu Mader, Marcelo Serrado, Marieta Severo, Marisa Orth, Miguel Falabella, Monica Iozzi, Paulo Betti, Renata Sorrah e Selton Mello. Os músicos Caetano Veloso, Chico Buarque, Dinho Ouro Preto, Emicida, Fafá de Belém, Lulu Santos, Rita Lee e Samuel Rosa. Os novelistas Daniel Ortiz, Licia Manzo e Walcyr Carrasco. Os jornalistas Edney Silvestre, Juca Kfouri e Marília Gabriela. Os escritores Antonio Prata, Ignacio de Loyola Brandão, Julián Fuks, Luis Fernando Veríssimo e Mário Prata. Os cineastas Anna Muylaert, Fernando Meirelles, Jorge Furtado e Lais Bodanzky. Os apresentadores Astrid Fontenelle, Fábio Porchat e Marcelo Tas. A antropóloga Lilia Schwarcz, a filósofa Marcia Tiburi e o diretor de teatro Zé Celso Martinez Corrêa.

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E ainda morre o Sergio Sant’Anna. Além do povo, muitos em CPF, o coronavírus mata um artista, um escritor ou um jornalista por dia.