Jornalismo subalterno

O jornalismo-sabujo foi decisivo para os golpes contra Getúlio e contra Jango. Mas geralmente era exercido por subalternos, nas grandes redações, em nome de patrões engajados a projetos golpistas.

Todos sabiam, nos anos 40, 50 e 60, que os jornais expressavam o pensamento de seus donos ao defenderem a queda de governos que consideravam genericamente populistas ou comunistas. E alguém tinha que escrever a respeito, mesmo que sem muita convicção.

São muitos os autores que se dedicaram ao tema do jornalismo-sabujo – entre os mais recentes, Jorge Ferreira e Ângela de Castro Gomes (1964 – O golpe que derrubou um presidente) e Juremir Machado (1964 – Golpe midiático-civil-militar).

Só que descobriram no século 21 que é possível fazer golpes sem os militares. Mas sem uma imprensa engajada, e como protagonista, nunca haverá golpe.

O golpe atual inova também em relação à imprensa. Nas grandes redações de hoje, os subalternos golpistas podem ser mais reacionários do que os patrões. O golpismo deixa de ser uma missão dos donos dos veículos, mas dos seus entusiasmados empregados.

Nunca antes as redações foram ocupadas por tantos golpistas, em meio a uma grande maioria de jornalistas legalistas. O jornalismo adesista brasileiro vive, em momento delicado para a atividade, uma etapa sombria, na condição de amigo ganso do pato da Fiesp.

Hoje, por exemplo, a Folha traz um artigo do jornalista Vinicius Mota com o seguinte título: “Dilma insufla o ódio nas ruas e vai morar em Ipanema”.

O ódio de que ele fala é a declaração de Dilma de que o governo Michel Temer deve se preparar para uma oposição vigorosa.

Quanto a Dilma pretender morar em Ipanema, é de se perguntar: por que ela não poderia residir em um bairro onde certamente moram muitos jornalistas golpistas?

Por isso é que os mais velhos sentem até saudade de jornalistas golpistas e panfletários do porte de um Carlos Lacerda.