JUREMIR, O ÚLTIMO MOICANO

Participei de muitos eventos ao lado de Juremir Machado da Silva, sempre sobre jornalismo. Hoje, Juremir virou notícia por ter abandonado no ar o programa de Rogério Mendelski na Guaíba, depois de ter sido censurado por Bolsonaro.

Um desses eventos aconteceu há uns três anos, quando Manuela D’Ávila nos chamou para um debate sobre intolerância e violência nas redes sociais, no plenarinho da Assembleia. Luciano Potter também estava na mesa.

A turma do MBL levou uma dúzia de agitadores e interrompeu a conversa aos gritos. Armou uma confusão e o debate foi suspenso. Era o ensaio do que aconteceria hoje pelo país de forma disseminada.

Na saída, no elevador, um dos participantes da turba entrou junto e começou a me agredir com palavrões. Disse que o cachorro mijava em cima do que eu escrevia em Zero Hora.
Quem estava junto pediu que o homem calasse a boa, mas o sujeito foi até o térreo me ofendendo (asseguro aqui que senti pena e nojo do cara, mas não senti medo daquele canalha).

O Juremir estava no elevador. Pois Juremir é o último jornalista empregado de empresa de comunicação, na mídia tradicional, que emite opinião regularmente e pode ser chamado de progressista e com ideias de esquerda. Os cachorros da direita mijam no que ele escreve.

Sabemos que ele não tem partido, que atua com independência, mas que não é neutro. Só os jornalistas de direita se dizem neutros. Juremir é o último moicano com vínculo com uma grande empresa que fala e escreve regularmente como jornalista de opinião.

Não falo aqui de colaboradores opinativos eventuais terceirizados (o truque das empresas para não se comprometerem), nem de repórteres progressistas e humanistas, que são maioria nas redações da grande imprensa. Vou repetir: falo de profissionais empregados que têm espaço para opinar e opinam regularmente.

Juremir tem espaços diários, mas ficou sozinho, todos os articulistas de esquerda foram mandados embora.

Todo o resto que ficou é de direita. Às vezes de uma direita dissimulada, camuflada, mas sempre antiPT, raivosa com as esquerdas e debochada com as feministas, com os gays, ambientalistas e movimentos sociais. Esses outros são apenas fofos que enganam trouxas.

Que a empresa em que Juremir trabalha (e onde eu e muitos colegas trabalharam, nos tempos de Breno Caldas) não cometa o erro de discriminá-lo.

Nós vamos denunciar perseguições a jornalistas onde a repressão acontecer. Esta é uma ameaça cada vez mais presente no ambiente criado pelo fascismo.

Nós estamos no mesmo elevador, Juremir. Se mandarem descer, nós mandamos subir.

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