Mais duas armas encontradas se transformam em manchete no Globo

É a manchete do Globo desde o início da noite de hoje:

“Após recontagem, número de armas apreendidas em megaoperação sobe para 120, sendo 93 fuzis”

Imaginem se o número tivesse subido para 300 ou algo assim. Essa é a notícia:

“Após recontagem, número de armas apreendidas em megaoperação sobe para 120, sendo 93 fuzis. Até então, as autoridades contabilizavam 118 armas”.

O número de armas subiu de 118 para 120 e virou manchete. Duas armas transformaram uma notícia de notinha em manchete.

Aí me lembrei de um caso no Alegrete, nos anos 70, quando eu era repórter da Gazeta. Um sujeito havia atacado outro com um facão com lâmina de 70 centímetros, num boteco do Povo da Lata.

Eu copiei o registro do livro de ocorrências e voltei ao jornal. Minutos depois, toca o telefone e o comissário Brasil (me lembro muito bem dele) me informa o seguinte:

“O fato continua o mesmo, mas o facão tinha uma lâmina de 68
centímetros. Corrige aí”.

Em nome da precisão, o comissário fez questão de esclarecer que o facão tinha dois centímetros a menos. E no dia seguinte saiu a notícia com a medida certa.

(A chacina resulta na morte de 121 pessoas, e a polícia e o Globo estão preocupados com a correção no número de armas, e essa correção representa o acréscimo de apenas duas armas. O jornalismo virou assessoria de imprensa dos mandantes da chacina.)