MANDETTA OFERECEU A SOLUÇÃO A BOLSONARO
O principal recado de Luiz Henrique Mandetta na entrevista ao Fantástico é um dilema cuja solução, numa situação normal, não dependeria do ministro, mas do presidente da República. E a ‘solução’ pode sair daqui a pouco.
O dilema não é a dúvida das pessoas sobre quem diz o certo e o errado, exposta por Mandetta. Não é sobre a repetida controvérsia sobre a fala do ministro pedindo isolamento e a do presidente pedindo que todo mundo seja liberado para fazer o que quiser.
O dilema é outro. Se Mandetta diz que os discursos precisam ser afinados, para que a população tenha a clareza de que há um plano e um rumo contra a pandemia, sem divergências, é claro que a afinação não será determinada por ele.
Aqui começa o dilema. Não será Mandetta quem irá dizer a Bolsonaro que ele deve se alinhar aos seus apelos pelo isolamento e para que o comércio, as igrejas e todas atividades não essenciais devem continuar fechadas.
Quem deve determinar a unificação do discurso, por imposição hierárquica, é o presidente da República. Mandetta é subalterno de Bolsonaro. E os dois pensam tudo ao contrário.
O que o ministro disse no Fantástico, ao sugerir que as pessoas acreditem no que ele aconselha como médico, é uma insubordinação.
Ninguém imagina que, para unificar discurso, como deseja o ministro, Bolsonaro vá reavaliar posições conflitantes com as defendidas por Mandetta.
Por isso, hoje Bolsonaro pode, se achar que a entrevista de Mandetta tem sentido, passar a determinar que um só discurso seja transmitido à população.
O discurso é o conhecido: que se libere o comércio, que as pessoas circulem à vontade, que as igrejas abram as portas para disputar os R$ 600 da ajuda de emergência e que todos os infectados passem a tomar cloroquina.
Se Bolsonaro diz que o surto está indo embora e se Mandetta assegura que o pior acontecerá entre maio e junho, alguém está errado. É evidente que Bolsonaro não sabe nada do que fala.
Mas Bolsonaro é o chefe, ele é quem manda, ou talvez se descubra que não manda mais nada. Mandetta ofereceu a solução ao chefe e quase pediu para sair.
Nesta segunda-feira ficaremos sabendo se ele ainda soluciona alguma coisa. Bolsonaro sabe que não pode demorar muito.
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TERRA ERRA TODAS
O que Osmar Terra vai dizer para tentar explicar os erros com as previsões sobre infectados e mortos na pandemia?
Deve dizer que os números são maiores do que deveriam ser por causa do isolamento. Se todos estivessem andando por aí, como Bolsonaro faz, estaria tudo bem.
A tese dele é de que há muitas mortes na Itália porque as pessoas ficaram em casa, quando todos sabem que essa é uma fake news, que os italianos subestimaram o surto e por isso morreram tantos.
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BOM RETORNO, MINISTRO
O ministro Celso de Mello deve retornar hoje ao Supremo, mesmo que virtualmente, depois do afastamento para tratamento de saúde.
Sai da gaveta, em meio à pandemia, o processo da suspeição de Sergio Moro.
O voto de Celso de Mello na Segunda Turma do STF é decisivo. Não há escapatória para Sergio Moro.