MARCO MACIEL E AS ESQUERDAS
A esquerda que refuga as figuras e as forças de centro será sempre esquerda, mas nunca será poder numa democracia.
Marco Maciel era uma dessas figuras. Tive a chance de ficar diante dele num evento do Mercosul em Florianópolis nos anos 90.
Sua presença passava cordialidade, serenidade e uma delicadeza raras na política.
Foi um jovem golpista em 64, como Teotônio Vilela, Severo Gomes e Sinval Guazzelli também foram.
Na maturidade política, arrependeu-se e lutou pela volta da democracia. Não há muitos da sua estirpe hoje na direita brasileira.
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Compartilho abaixo o texto de um dos nossos bons pensadores de esquerda hoje, o físico e empresário baiano Claudio Guedes, a propósito da nota que escrevi sobre Marco Maciel.
O texto de Guedes, que pensa fora das caixinhas esquemáticas da esquerda, foi publicado no Facebook.
Dilema
Claudio Guedes
“A esquerda que refuga as figuras e as forças de centro será sempre esquerda, mas nunca será poder numa democracia.”
Abro o Face neste domingo, 13/6, e encontro a frase acima em um post do ótimo jornalista gaúcho Moisés Mendes . Num comentário sobre a morte recente de Marco Maciel, o político liberal (nas últimas décadas de vida) pernambucano, que era um homem elegante neste ambiente poluído da política brasileira.
A frase de Moisés me lembrou um comentário que li há poucos dias de Celso Furtado, o grande economista e intelectual nordestino, no livro Correspondência Intelectual 1949-2004, organização e notas Rosa Freire d’Aguiar Companhia das Letras, 2021.
Diz Furtado, em carta ao ex-deputado cassado pelo AI-5 Márcio Moreira Alves, comentando a divisão entre os militares portugueses vitoriosos em 25 de abril de 1974: “Minha impressão de longe é que se confirmou o que já se havia observado no Chile: grupos de extrema esquerda não são mais do que excitadores, sem papel autônomo nos momentos decisivos da luta pelo poder”.
Não preciso dizer, mas o faço. Concordo com ambos. São sínteses que escancaram o papel contraproducente da esquerda mais radical, na verdade uma esquerda voluntariosa e irrealista, nos momentos importantes da luta pelo poder no mundo contemporâneo.
No nosso país, nos dias de hoje, o papel da esquerda consistente e consciente é buscar alianças capazes de derrotar a direita organizada e que conquistou o poder em 2018, com manobras e truques,
mas também com inegável apoio popular.
Nossos objetivos são, ou deveriam ser, claros: defender e aprofundar a democracia e reconquistar o poder.
Reconquistar o poder político para implantar projetos desenvolvimentistas, investimentos maciços em educação, saúde e segurança públicas, ciência e tecnologia, com distribuição de renda e desenvolvimento do mercado interno.
São objetivos apenas alcançáveis com apoio da maioria da população e das instituições da sociedade civil. Por isso uma política de aliança realista é necessidade imperiosa no Brasil de hoje.
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Aroeira e Nando Motta no site dos Jornalistas pela Democracia