MORO ENTREGARÁ A PRÓPRIA CABEÇA?

Um governante em situação normal, em um país sob normalidade política, pode trocar o chefe da Polícia Federal porque o servidor não combateu o tráfico de armas e drogas, foi ineficiente na repressão ao contrabando, poderia ter sido melhor nas sindicâncias sobre lavagem de dinheiro, ou porque era incompetente como gestor de pessoas ou até mesmo corrupto.

Um governante em situação anormal, em um país sob anormalidade geral, pode decidir mandar embora o chefe da Polícia Federal porque o servidor investiga seus filhos. Não deveria, mas manda.

Quem fica mal nesse caso não é o delegado, que pode ser degolado por cumprir com sua obrigação. O chefe imediato dele fica numa situação insustentável.

Sergio Moro é parte de um governo anormal, porque entrou no governo de forma anormal. Não há normalidade em nenhuma área do governo de Bolsonaro. E há um ano e quatro meses Moro é cúmplice dessas anormalidades.

O ex-juiz convive num ambiente em que circula todo tipo de suspeita envolvendo os Bolsonaros, todos sob a pressão de investigações da polícia e do Ministério Público.

E Moro está agora numa situação em que não haveria escolha. Se seu chefe determinou que ele, como chefe do delegado, mande o policial embora, ele deveria ser o primeiro a sair.

Não deveria, como está sendo noticiado, esperar que Bolsonaro leve adiante a demissão do delegado Maurício Valeixo. Quando a cabeça do delegado foi pedida por Bolsonaro, Moro deveria ter ido embora.

Corre agora que os generais conseguiram segurar Moro, que teria o direito de participar da escolha do sucessor de Valeixo.

O ministro permitiria que o presidente mande embora o delegado que investiga os filhos do presidente e, na negociação, aceitaria participar da escolha do substituto do delegado degolado?

Não pode ser verdade. Moro não quis ser desrespeitoso diante dos generais que tentaram a mediação, logo depois do atrito com Bolsonaro. Mas hoje Moro acorda cedo, põe o melhor terno e vai dizer a Bolsonaro que não fica.

Se ficar, com todo o apoio da extrema direita, com o respaldo de policiais alinhados com Bolsonaro, com o suporte de ministros militares, com tudo a que tem direito para tentar justificar sua permanência, Sergio Moro terá pisoteado e destruído todas as suas pretensões.

Se ficar, Moro será um ministro cambaleante, não será ministro do Supremo, pelo constrangimento causado também ao Judiciário, e talvez não consiga ser um candidato com alguma chance em 2022.

Se os dois, o delegado e Moro, decidirem ficar, ambos estarão entregando as próprias cabeças a Bolsonaro.

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