MORTES NATURAIS

Os defensores dos seguranças que espancaram o trabalhador João Alberto Silveira Freitas no Carrefour diziam que ele pode ter morrido de causas naturais. Talvez um ataque cardíaco.

Agora, dizem o mesmo da morte da servidora pública e militante da Vila Cruzeiro, de Porto Alegre, Jane Beatriz da Silva Nunes (foto), que teve a casa invadida (sem que nada devesse) por uma dúzia de brigadianos, foi empurrada por um deles e passou mal.

Ela também teria morrido de causas naturais, que seria um aneurisma. Não há nunca situações semelhantes com brancos de classe média e com ricos, que não têm casas invadidas pela polícia nem levam bordoadas.

Freitas era pobre e negro. Jane Beatriz era pobre e negra. Morreram, segundo os outros, de causas naturais.

Nesse momento, centenas de pobres e negros estão morrendo dessas causas naturais nas periferias e nos morros do Brasil.

Mortes decorrentes de ações violentas (ou a invasão de uma casa não é uma violência?) tornaram-se naturais há muito tempo.

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LÁ E CÁ
Neymar está nas manchetes de novo com o caso de racismo em Paris. Com esse, ele já conseguiu ver dois casos, os dois em Paris, transmitidos ao vivo para todo o mundo desde o Estádio dos Príncipes.

Neste momento, há centenas ou milhares de casos de racismo, mas no Brasil e sem que ninguém veja pela TV.
Ser antirracista num jogo de futebol em Paris será sempre mais charmoso.

No Brasil, o mais cômodo é ser bolsonarista. Em Paris, ele aparece ao lado de Demba Ba e pega carona na valentia do senegalês que enfrentou o árbitro racista.

No Brasil, Neymar tira fotos com a família Bolsonaro.

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O EXEMPLO
O futebol brasileiro, tão carente de bons exemplos, nos ofereceu ontem a grandeza do gesto de Patrick consolando Peglow.

O guri escondeu o rosto na camiseta desde o momento em que perdeu o pênalti ontem, no jogo contra o Boca Júniors.

Patrick entendeu o desespero de quem tem apenas 18 anos e foi quem o acolheu e protegeu até sair do campo.

Peglow não sabia nem por onde andava para chegar de volta ao vestiário. Patrick sabia. Muito bonito.

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