Não se esqueçam do grampo de Ramagem
Não dá para jogar num canto, sem respostas, as perguntas que continuam sendo feitas, cada vez com menor intensidade, sobre o grampo de Alexandre Ramagem.
1. Por que a primeira reação de Bolsonaro foi de revolta ao saber que Alexandre Ramagem havia gravado a reunião de 25 de agosto no Palácio do Planalto, mas depois o sujeito se acalmou, tanto que foi ao Rio apoiar o lançamento da candidatura do delegado deputado à prefeito?
Uma reposta quase óbvia. Bolsonaro recuou porque pode ter sido informado de que há mais gravações. Que Ramagem talvez gravasse todas as conversas, porque essa é a índole de um policial que trabalha com arapongagem. E ninguém deve saber, além do próprio Ramagem outros poucos, com quem estão esses áudios. Bolsonaro gostaria de saber?
2. Se está confirmada a versão de que Bolsonaro não confiava nas advogadas do filho, por que ele recebeu Luciana Pires e Juliana Bierrenbach em seu gabinete, ao lado de Ramagem e Augusto Heleno?
Porque as duas poderiam ter, como prometeram e levaram adiante, um plano para salvar Flavio nas investigações sobre as rachadinhas. As advogadas foram ao encontro de Bolsonaro com uma eureka.
Alexandre Ramagem reafirmou no depoimento de mais seis horas à Polícia Federal que gravou a reunião porque Bolsonaro poderia ouvir uma proposta não republicana. A proposta indecorosa seria enviada pelo ex-governador Wilson Witzel: Bolsonaro garantiria uma vaga no Supremo (a ele ou não se sabe a quem), e Witzel arranjaria um jeito de livrar Flavio.
3. Todos os jornais dizem que a proposta indecorosa não apareceu na reunião. Mas será que não apareceu mesmo?
A grande imprensa ignora que a proposta foi feita pelas advogadas e logo endossada pelo próprio Bolsonaro. Ele ouve o plano e sugere que as advogadas procurem o chefe da Receita. Dá até o seu nome: José Tostes.
E foi o que aconteceu, confirmado por Juliana Bierrenbach. Elas foram falar com o chefe da Receita, e logo depois se deu a sequência de fatos imaginados na reunião para que os auditores fossem amordaçados.
As advogadas defenderam propostas indecorosas, Bolsonaro sugeriu providências indecorosas, Ramagem ouviu as sugestões indecorosas e concordou com Bolsonaro e não aconteceu nada para contê-los.
A reunião indecorosa não teve nenhuma outra medida, no sentido de denunciar seu conteúdo, porque todos ali não estavam preocupados com decoro.
Só não apareceu na gravação o emissário ou a emissária da proposta de Witzel, mas Bolsonaro fala do assunto na reunião.