NÃO É A ARENA. É OUTRA COISA PIOR
As vitórias de Davi Alcolumbre no Senado e de Rodrigo Maia na Câmara não são um regresso à velha Arena. Os dois são do DEM (o ex-PFL e braço da Arena), mas isso não significa o retorno à direita dos velhos tempos.
Parte da esquerda vê o que seria essa regressão como uma espécie de tentação, quase como um escapismo, e assim nega a gravidade da situação que ganha forma com a ascensão do bolsonarismo. O bicho é outro.
O que prospera agora não é a política inspirada nas falas, nas ações e nos crimes dos coronéis (civis e militares) que deram forma à Arena. É uma imitação grosseira da Arena.
A direita se degradou para sobreviver como extrema direita. Rodrigo Maia pode ser o último moicano da direita que a grande imprensa ainda chama de ‘centro’. Mas estará a serviço da extrema direita.
Os românticos que veem a volta a Arena cometem o autoengano quase como consolo. O que vem aí é a turma do Rio das Pedras no poder, e não o retorno dos coronéis do Nordeste (Renan Calheiros pode ter sido o último desses coronéis).
Não existe mais a velha Arena, não há como ressuscitá-la, nem o PFL. Dos 54 senadores que tomaram posse agora, apenas oito já tinham mandato.
Os eleitos são quase todos de direita. Há uma nova direita no poder. No Planalto, na Câmara e no Senado.
Vamos admitir, para não cometer o equívoco de achar que enfrentamos as mesmas turmas da ditadura, que a realidade é mais assustadora do que o regresso à política dos anos 60 e 70.
O cenário é mais devastador. Eu concordo sempre com Flávio Koutzii. Tudo está ficando pior. E algo mais virá depois de Alcolumbre.
(A arte é um quadro de Aldemir Martins)