O abatimento da direita com o acordo entre o Mercosul e a União Europeia

Estão ao relento, sem pai nem mãe e sem parentes próximos confiáveis, os pensadores ‘liberais’ ressentidos que não sabem como lidar com o acordo do Mercosul com a União Europeia. Estão deprimidos vendo Lula ser apresentado ao mundo como o líder que fez o acordo avançar.

Há entre os liberais que pensam o que seria hoje o liberalismo (e não os que produzem alguma coisa), juntando economistas, professores, jornalistas, cientistas, coachs de mercado e similares, um sentimento de desalento.

A viabilização de um projeto próximo do que pode vir a ser um comércio com menos restrições, com fortes compromissos com a troca de práticas saudáveis, que incluem a defesa do meio ambiente, não poderia ser liderada por Lula.

Eles sofrem vendo Lula de mãos dadas com Ursula von der Leyen nas fotos oficiais. E cometendo o desplante de falar ao ouvido da presidente da Comissão Europeia, com Javier Milei perdido ao fundo.

É natural que Emmanuel Macron puxe em parte da Europa a gritaria contra o acordo. Macron fala alto em nome do seu agro pop. Mas os brasileiros constrangidos com o acordo murmuram uma tentativa de sabotagem em nome de quem? Por quem choramingam pelos cantos e pelos jornais?

Choram pelos que não representam mais. Não são necessariamente contrários ao acordo, mas estão desconfortáveis testemunharem o que aconteceu. Porque é chato que tal acordo aconteça com a Europa, o que afronta os Estados Unidos que eles idolatram.

E, o que é pior, que tudo o que é referência americana do pós-guerra, na área do comércio internacional e das teorias nessa área, não valha muito nessa hora. Não só para eles, mas por quem tenta entender o que está acontecendo no mundo.

Os liberais brasileiros estão incomodados porque Lula se aproxima da China e da Europa e leva junto alguns parceiros. E porque o que ainda chega de ideias velhas dos Estados Unidos perde relevância como referência até para a argumentação acadêmica.

O mundo ideal liberal que os americanos projetaram na cabeça dos brasileiros por décadas, principalmente a partir dos anos 90 do neoliberalismo, só fingia existir dentro dos Estados Unidos e não existirá com Trump.

O que existe agora é o trumpismo absoluto. Nada mais se sustenta das ideias liberais que Francis Fukuyama, o último soldado do general Custer, acreditou que se espalhariam pelo mundo com o fim da História.

Não há mais confiança a partir dos ideais do liberalismo americano, não o liberalismo apenas econômico, mas das almas, das sociedades pretensamente abertas, democráticas, confiáveis, com instituições fortes e respeitadas. O que os liberais menos têm hoje é confiança.

Os liberais testemunham a ascensão do trumpismo com um Judiciário acovardado e com uma elite confusa sobre os limites entre ser conservadora e ser fascista. É a realidade que os espera em janeiro.

O que sobra também para certos liberais brasileiros é Trump. Eles têm Trump e Milei como referências desconfortáveis. O pensamento liberal brasileiro, sustentando pelo que teria sido o liberalismo prático americano, está órfão. Não há onde se agarrar. No protecionismo do novo chefão que logo estará de volta à Casa Branca? No liberalismo libertário do farsante Milei?

Os grandes pensadores liberais da prosperidade à la Tio Sam sumiram e deixaram o mundo deles aqui entregue a Roberto Campos Neto, Alexandre Schwartsman, à Faria Lima, a Paulo Guedes e a Pablo Marçal. Nunca o mundo liberal verde-amarelo foi tão medíocre.

O acordo com a União Europeia abate os que diziam falar pelos liberais que produzem, porque o setor produtivo, o que planta soja e fabrica pregos, está gostando do acordo. Os que achavam que pensavam por eles, pelos que produzem, se sentem traídos pela Fiesp, pela CNI e pelos que ainda estão quietos.

Quem não gostou do acordo, pelo desconforto que a presença de Lula provoca, não fala pelos que produzem e pode ser representado por figuras depressivas, como um liberal que joga para o bolsonarismo e definiu o que foi acordado, em comentário na TV, apenas como um pedaço de papel.

Outros murmuram queixas, do tipo: o que estão fazendo com a gente? Como Lula pode liderar um acordo que Paulo Guedes deveria ter amarrado? Por que, como deve pensar a Faria Lima, não foi Bolsonaro quem fechou esse acordo?

No geral, não chega a ter gritaria, mas tem o que é o pior como ressentimento nessas circunstâncias. Tem um choro baixo, uma queixa abafada, uma sequência de falas com mas em todos os jornalões. O acordo isso, mas aquilo. O acordo é bom, mas vai demorar. O Brasil ganha, mas perde.

Pulverizou-se o mundo imaginário da velha direita americanizada. O que há no mercado é a extrema direita agora trumpista, aplaudida com entusiasmo por Globo, Folha e Estadão na sua versão argentina.

A direita brasileira que se incomoda com o fechamento do acordo tentará viver num Brasil paralelo de orações por um liberalismo à la Trump e Milei. É por isso que 90% dos liberais das bets da Faria Lima desaprovam Lula e expressam que votariam de novo em Bolsonaro.

Mas Ursula von der Leyen aprova Lula. Até Armínio Fraga e Pedro Malan já aprovaram e depois se recolheram, para que não ficassem mal com seus pares.

O que sobrou para o pensamento liberal verde-amarelo são os destroços do que está aí, com a pulverização das bases da hegemonia americana. Nada restou dos netos dos Chicago boys e seus derivados, ou alguém sabe o que a academia ensina aos seus alunos sobre liberalismo econômico hoje? Quem são os mestres liberais brasileiros?

Alguém ensina aos estudantes que os Estados europeus e os Estados da periferia do Sul poderão ajudar a salvar os mercados? O que falam da China? Contam que o resto de tudo em que eles acreditavam virou apenas um papel numa nuvem analógica em alguma gaveta de um pensador ressentido e deprimido?

5 thoughts on “O abatimento da direita com o acordo entre o Mercosul e a União Europeia

  1. “Por que, como deve pensar a Faria Lima, não foi Bolsonaro quem fechou esse acordo??” kkkkk, perfeito, Moisés!
    O pessoal da Direita tá mordendo a fronha…

  2. Na hora H, os farialimers vão abraçar o neofascismo. Ao longo da história, os ditos liberais sempre agiram dessa forma. Agora torcem por Milei, pra que sirva de paradigma.

  3. Se o inacreditável voto de Dias Toffoli sobre o art. 19 do Marco Civil da Internet for seguido por seus pares (e ímpares também), o que ao que tudo indica ocorrerá, o STF estará implantando a República Federativa dos DEDOS-DUROS do Brasil. Se um esquerdista não gostar da OPINIÃO de um direitista, vai DEDURA-LO à respectiva plataforma. E vice-versa, se um direitista não gostar da OPINIÃO de um esquerdista, igualmente irá DEDURA-LO à plataforma. Vao argumentar que é FAKE NEWS. Tudo sob os aplausos entusiásticos das ORGANIZAÇÕES GLOBO. Que maravilha vai ser viver num país de DEDOS-DUROS, não ? Que maravilha será viver num país onde a CENSURA é a regra e a LIBERDADE DE EXPRESSÃO uma miserável exceção. É inacreditável o que o Supremo Tribunal Federal está fazendo com o Brasil. OPINIÃO agora, ao sabor do DEDO-DURO de plantão, pode ser FAKE NEWS ou desinformação, como se houvesse algum diploma legal definindo o que é FAKE NEWS e o que édesinformação. Alguém já deu uma boa DEFINIÇÃO do que seja FAKE NEWS: “FAKE NEWS é a opinião com a qual eu não concordo”. O Brasil ACABOU. Devolve logo esse troço para os indígenas e vamos procurar algum lugar no planeta, ou quem sabe em MARTE, para morar.

  4. Foi por isso entao que voces
    Estavam com os celulares na
    Cabeça no tempo da vigilia.
    Este juiz nao foi o mesmo que
    Aconselhou o mito, a ir para os
    Eeuu,em dezembro de 22

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