O Brasil merece o deboche destes dois

Flagraram policiais militares que recebiam propina do tráfico no Rio. Eles ainda não foram indiciados pela Polícia. Se forem, podem ou não ser denunciados pelo Ministério Público.

Mesmo assim, se apenas na condição de suspeito um deles fosse recebido pelo juiz que poderia depois julgá-lo, nenhum jornalista sairia a perguntar a juristas e professores de ética se aquilo teria sido normal ou moralmente aceitável. Porque a resposta é óbvia.

Mas um sujeito graúdo, denunciado pelo Ministério Público, e por acaso ocupando a presidência da República, provoca celeuma entre avaliadores de conduta quando janta com o juiz que o recebe em casa e já participou de um e pode vir a participar de outro julgamento em que o conviva é o réu.

Será que a atitude de Gilmar Mendes recebendo o jaburu em sua casa pode ser entendida como algo razoável? Há dúvidas sobre isso? É o que os jornais saíram a perguntar aos ‘especialistas’. Não há o que perguntar.

Ora, Gilmar Mendes e o jaburu jantam a todo momento e apenas voltaram a se encontrar agora, um dia depois do ocupante provisório do Planalto ter sido denunciado por corrupção passiva pelo procurador-geral da República.

Jantam e pronto. Está superado o debate sobre a questão ética envolvida nesta e em outras ações e gestos de Gilmar Mendes e do jaburu.

O que o Brasil não consegue debater é a questão política dessa relação entre juiz e réu. É a abordagem política que deveria interessar e nos mobilizar. Porque os juristas já apontaram as ilegalidades e imoralidades das atitudes de Gilmar Mendes. Tanto que já foram apresentados três pedidos de impeachment ao Senado, para que ele seja afastado do Supremo. Até os procuradores da Lava-Jato batem em Mendes.

Não é preciso ouvir professor da USP e da FGV para saber que Mendes e seu amigo jaburu não deveriam fazer o que fazem. O que o Brasil precisa é entender politicamente o deboche dessa dupla.

Eles agem assim porque se convenceram de que continuarão impunes. Mendes sabe que não será derrubado com argumentos legalistas e pedidos de impeachment. E o jaburu está certo do mesmo, de que pode continuar manobrando e permanecer no poder graças a essas manobras.

O único gesto capaz de derrubá-los seria o mais improvável hoje, o grande gesto das ruas, algo semelhante ao que a classe média ressentida fez com Dilma. Os dois, Mendes e Temer, sabem que as ruas não serão acionadas contra eles.

E sem a insatisfação expressa das ruas, ninguém mais cairá. Sem a compreensão de que Mendes e o jaburu nos desafiam politicamente e tripudiam nossa inação, tudo continuará como está (não vamos mais falar de indignação, por favor).

Ah, dirão alguns, mas Mendes não foi eleito. Nem o jaburu.

(A charge é do Aroeira)

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