O cidadão de bem

O personagem infame do ano foi a caricatura do cidadão de bem. O sujeito que, por definição, deveria incorporar as virtudes do brasileiro. A figura não é de 2016, mas nunca falaram tanto em nome do cidadão de bem.

Suas tias, seus primos, vizinhos e até colegas tiveram, em algum momento, o sentimento de que esses porta-vozes do cidadão de bem estavam falando em seu nome.

O porta-voz do cidadão de bem foi o sujeito falante do ano. Discursou em reuniões familiares, nas empresas, na internet e até nos parlamentos, em nome de uma classe média sempre ameaçada. Ele fez o contraponto barulhento ao silêncio de uma outra classe média encolhida e politicamente constrangida.

O porta-voz do cidadão do bem consagrou-se como o idiota lapidado. Ele é o inseguro e covarde que evoluiu como líder no grupo que frequenta (ao vivo ou nas redes sociais) com ataques e ofensas às mulheres (a deputada Maria do Rosário é a preferida dele) e a negros e pobres (invariavelmente vistos como bandidos em potencial), ao ProUni, às cotas, ao Bolsa Família.

O porta-voz do cidadão de bem também falou em nome das leis, da moral, da ordem e das armas e muitas vezes em nome das religiões. Ele também é pobre, às vezes um pobre em ascensão, mas é essencialmente o imbecil de classe média que se considera parte de uma elite esclarecida.

O homem que falou em nome do cidadão de bem para atacar qualquer ação humanista que considera de esquerda é a cara do Brasil que ficou mais estúpido, preconceituoso, fascista e golpista em 2016.

Em 2017, esse macho autocentrado, violento e sem limites não pode continuar prosperando. Este é o ano para que o Supremo faça andar o processo contra o ídolo dos cidadãos de bem, o homem que se vangloria de ser estuprador.

2017 deve ser o ano da cassação do mandato de Bolsonaro, o guru dos que falam em nome dos cidadãos de bem. E deve ser também o ano em que agressores que imitam Bolsonaro, mesmo os virtuais, não mais continuarão impunes.

Exemplares deste autoproclamado cidadão de bem fazem parte das melhores famílias. O brabo é que sabemos que alguns deles podem, daqui a pouco, nos desejar um Feliz Ano Novo com figurinhas de taças fazendo tim-tim.

(Na tirinha no alto, o valente Armandinho de Alexandre Beck)

 

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