O DESMENTIDO PELA METADE
É interessante uma correção que O Globo publicou hoje à tarde na edição online. A correção diz que Moro não pediu a substituição da procuradora Laura Tessler, cuja performance foi criticada pelo juiz em 13 em março de 2017, em mensagem enviada a Deltan Dallagnol.
O juiz de fato critica a procuradora e sugere que seja treinada. Mas não pede a troca de forma explícita. A troca teria sido então uma decisão de Dallagnol com outro colega, para agradar Moro.
Isso é o que está na mensagem do juiz enviada no dia 13 de março: “Prezado, a colega Laura Tessler de vocês é excelente profissional, mas para inquirição em audiência ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem”.
Dallagnol passa adiante a mensagem de Moro ao procurador Santos Lima e pede que olhem as escalas, pensando certamente na audiência do dia 10 de maio com Lula. Dallagnol quer resolver o problema levantado por Moro.
Lima sugere uma saída: mandar mais um procurador ao interrogatório, Júlio ou Robinho.
No dia 10, aparecem o próprio Santos Lima, mais Júlio Noronha e Roberson Pozzobon. Três procuradores. Laura fica de fora.
No depoimento no Senado esta semana, Moro disse que não recomendou a troca da procuradora.
O certo é que ela foi descartada como interrogadora de Lula e nunca participou de nenhuma audiência com o ex-presidente.
Agora, o Globo fez a correção. Mas aí fica uma dúvida que não é pequena.
Hoje mesmo, a força-tarefa de Dallagnol na Lava-Jato disse que “a notícia” dos diálogos sobre Laura é falsa. Atentem para o que diz a nota:
“A força-tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal no Paraná (MPF/PR) vem a público repudiar notícia falsa sobre troca de procuradores em audiência do caso Triplex por meio de publicação rasa, equivocada e sem checagem dos fatos pelo blogueiro Reinaldo Azevedo”.
A notícia divulgada pelo Intercept via Reinaldo Azevedo seria falsa. E por que seria? Porque as conversas tratam de uma troca de procuradores. E a força-tarefa assegura que não houve troca de procuradores. É o que eles consideram importante para o desmentido.
Mas como Laura não foi afastada, se Santos Lima busca uma saída com outro procurador e no fim vão três para a audiência? Sem Laura.
A questão do desmentido agora não essa. É que em nenhum momento a nota diz de forma categórica que os diálogos das mensagens sobre Laura são falsos. A nota se refere às “absurdas conclusões”, à “material cuja autenticidade não foi confirmada”, às “publicações que distorcem supostas conversas”, à “suposta versão” e outras observações.
Todas essas observações não têm força de desmentido do que mais importa: as mensagens.
A nota do MP não tem a coragem de dizer: as conversas são falsas. Eles não afirmam: aqueles diálogos não são nossos, nós nunca escrevemos aquelas frases em mensagens.
O que é falso para os procuradores é a notícia sobre mudanças na escala dos interrogatórios. Só a notícia.
O que se sabe é que, depois da mensagem de Moro, Laura Tessler nunca mais apareceu em audiências com Lula. Moro pode ter conseguido o que queria: sugeriu, sem ser direto, que a procuradora era fraquinha e que ele só lida com homens fortes. Três homens o auxiliaram a enfrentar Lula.