O drama de Fabiola Yáñez e o cinismo do fascismo argentino
A tragédia pessoal da jornalista Fabiola Yáñez e suas repercussões políticas são um banquete para a extrema direita argentina. A ex-primeira-dama acrescenta todos dias novas informações às denúncias de que era acredita pelo ex-presidente Alberto Fernández.
Nessa terça-feira, admitiu em depoimento remoto, pela internet, ao Ministério Público, falando de Madri, que passou a beber muito para enfrentar os maus tratos, depois que foi obrigada a abortar, em 2016. Que ele também consumia muito álcool. Quando estavam com amigos, fumavam maconha.
E que ficou sabendo de situações embaraçosas contra o ex-marido de uma forma inusitada. Um celular antigo, que Fernández usava, foi dado como brinquedo ao filho do casal, Francisco, que completou dois anos em abril. Fabiola descobriu ali conteúdos comprometedores contra o ex-presidente.
O celular ainda guardava, entre outras coisas, vídeos de conversas de Fernández com Cecilia del Milagro Hermoso González, que ocupava a direção da área de Comunicação Digital da Presidência, na Casa Rosada. Cecilia seria amante de Fernández.
Como ele não apagou o vídeo, há um alvoroço entre aliados, que trabalharam na Casa Rosada ou conversavam com o ex-presidente, sobre outros conteúdos do celular, que pode ter sido entregue à Justiça.
O jornal Clarin informa que assessores de Fernández o definem como um desleixado no manuseio do celular, ou seja, ele não saberia lidar direito com o aparelho e não usava sistemas especiais de segurança (ao contrário, como se sabe, do que Bolsonaro fazia no Brasil, com vários aparelhos e vários números).
O depoimento de Fabiola durou três horas e foi interrompido por três crises de choro. Ela também contou que por um tempo fez tratamento psiquiátrico. Fernández já disse, em entrevista ao jornal espanhol El Pais, que nega as denúncias e que nunca bateu em mulher.
O fascistão Javier Milei e seus ministros estão se divertindo. Milei escreveu nas redes sociais, ao comentar o caso, que os esquerdistas argentinos são depravados e imorais e fazem “muito sexo gay”.
A extrema direita aproveita para dar lição de moral no peronismo-kirchnerista e investir de novo em pautas de costumes, como a guerra à população LGBTQIA+, como se fosse possível misturar os assuntos, para agradar a família que tem Deus acima de tudo.
O fascistão misógino, homófobo e adorador de torturadores é cruel com a própria vítima. Milei escreveu no X que os argentinos devem lembrar que Fernández era “um paladino do feminismo que espancava a esposa” e acrescenta que “FY (Fabiola Yáñez) foi cúmplice, especialmente na pandemia, de muitas das aberrações do horrível governo do kirchnerismo”.
A extrema direita argentina queixou-se muito, durante a pandemia de Covid, das restrições impostas por Fernández, mas não fica claro a que Milei se refere. O fascistão acusa parte da imprensa de ser conivente com o caso e promete mais ataques.
Essa é a Argentina, onde sempre há uma mulher nos dramas pessoais e políticos que podem se transformar em tangos. A pergunta entre os peronistas é essa: o que teria de acontecer do outro lado, como escândalo da extrema direita, para atenuar o efeito devastador do caso de Fabiola, que tem agressões, aborto, alcoolismo e maconha?