O escabroso caso da estudante turca
Leiam essa história, que vem sendo contada pela imprensa americana como um caso emblemático da perseguição neonazista do governo de Trump a quem não pensa como a extrema direita.
O texto, na íntegra, é do The Washington Post:
THE WASHINGTON POST
Juiz federal ordena libertação da estudante Rumeysa Ozturk
Estudante turca está detida em um centro de detenção do ICE, na Louisiana, desde o final de março.
Por Joanna Slater
Um juiz federal ordenou que o governo liberte uma estudante de pós-graduação da Tufts Universidade, que foi sequestrada na rua no final de março e detida por coescrever um artigo de opinião em um jornal estudantil criticando a guerra em Gaza.
Rumeysa Ozturk, uma cidadã turca (foto), foi capturada por agentes federais mascarados do lado de fora de sua casa, perto de Boston, depois transferida para Vermont e levada de avião para Louisiana , onde permanece detida.
A audiência dessa sexta-feira foi realizada em um tribunal federal em Vermont , onde os advogados de Ozturk argumentaram que sua prisão e detenção eram inconstitucionais.
O Juiz William Sessions, do Tribunal Distrital dos EUA, afirmou que a detenção da estudante “constitui uma violação contínua da Primeira Emenda da Constituição e dos direitos ao devido processo legal”. Além disso, “potencialmente restringe a liberdade de expressão de milhões e milhões de indivíduos neste país que não são cidadãos americanos”.
O governo não apresentou argumentos convincentes para a prisão de Ozturk, disse Sessions, e, portanto, sua “detenção contínua não pode ser mantida”. Um porta-voz do Departamento de Segurança Interna não respondeu a um pedido de comentário sobre a decisão do juiz.
Ozturk, de 30 anos, compareceu à audiência remotamente, por vídeo, usando um avental laranja de prisão, vindo de um centro de detenção do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), na Louisiana. Ela pareceu chorar quando o juiz concluiu sua decisão. E abraçou seu advogado ao final da audiência.
Ozturk disse na audiência que sofre de crises de asma, que pioraram durante o período em que esteve sob custódia. “A duração, a intensidade e a frequência aumentaram”, disse Ozturk, devido aos “gatilhos constantes ao meu redor e ao ambiente estressante” no centro de detenção.
Ela disse ao tribunal que estava ansiosa para retornar aos seus estudos de doutorado em estudos infantis e desenvolvimento humano na Tufts.
Ozturk será libertada sob fiança enquanto seu caso continua. Ela também estará sujeita ao processo de deportação.
Sua prisão faz parte de uma repressão mais ampla do governo Trump contra estudantes que não são cidadãos americanos e que se envolveram em ativismo pró-palestino.
Nos últimos meses, o governo prendeu estudantes pró-palestinos — incluindo residentes permanentes dos EUA — e rapidamente os enviou para centros de detenção em Estados como Louisiana e Texas, como preparação para a deportação.
Os estudantes não foram acusados de nenhum crime. Para iniciar o processo de deportação, o governo Trump está usando uma disposição obscura da lei de imigração que permite a remoção de uma pessoa cuja presença seja considerada prejudicial à política externa dos EUA.
No caso de Ozturk, seu visto de estudante foi revogado em março sem que ela fosse notificada. O Departamento de Segurança Interna afirmou que Ozturk se envolveu em atividades “em apoio ao Hamas”, uma organização terrorista assim designada pelos EUA, mas nas semanas seguintes desde sua detenção nem a agência nem os promotores apresentaram provas dessa alegação.
Em vez disso, os documentos do governo em seu caso citaram um memorando que se se refere apenas a um artigo de opinião de 2024 que ela coescreveu em um jornal estudantil da Tufts, criticando a posição da universidade à campanha militar de Israel em Gaza.
Correspondências internas no caso de Ozturk revelam que o DHS recomendou a revogação do visto de Ozturk. A estudante “se envolveu em ativismo anti-Israel”, escreveu um alto funcionário do DHS. “Especificamente”, continuou ele, Ozturk “foi coautora de um artigo de opinião” que pedia que Tufts se desfizesse de empresas com vínculos com Israel.
No entanto, um memorando posterior do Departamento de Estado concluiu que, embora Ozturk tenha criticado a resposta de sua universidade à guerra em Gaza, o DHS não apresentou nenhuma evidência mostrando que ela havia se envolvido em atividades antissemitas ou feito declarações públicas indicando apoio a uma organização terrorista.
Na audiência de fiança de sexta-feira, o Departamento de Justiça não apresentou nenhuma testemunha nem fez nenhuma pergunta a Ozturk.
Jessica McCannon, pneumologista do Hospital Geral de Massachusetts, testemunhou que revisou os registros médicos de Ozturk e conversou com ela durante seu período de detenção.
McCannon disse que a asma de Ozturk havia “piorado significativamente” desde sua prisão. Ozturk pediu licença por alguns instantes durante a audiência depois que seu advogado disse que ela começou a apresentar sintomas.
Sessions questionou Ozturk sobre sua saúde, seus estudos de doutorado e seu trabalho como assistente de ensino. Ele pediu várias vezes que ela falasse devagar para o taquígrafo. Depois que ela terminou, o juiz lhe deu um conselho para sua futura carreira docente. “Tente ir sem pressa”, disse ele.
Ozturk sorriu, e houve risos no tribunal. “Obrigada, Meritíssimo, farei o meu melhor”, disse Ozturk, cruzando as mãos sobre o peito em um gesto de sinceridade. “Obrigada.”
(Para quem acha o caso dessa estudante absurdo: o autor desse blog foi condenado no ano passado, em primeira instância, pela Justiça de Santa Catarina, por ter sugerido em artigo de agosto de 2021 que o véio da Havan, grande defensor das liberdades, inaugure uma loja da sua rede em Cabul com uma daquelas réplicas grotescas da estátua da liberdade. O caso está em recurso em segunda instância, no Brasil mesmo, não no Afeganistão. Compartilho abaixo o link para um texto com detalhes sobre essa condenação.)
Ok, eu encho o saco do Moisés, mas torço para que ele consiga vencer o processo contra o Véio da Havan.
Eu li a reportagem sobre a estátua e é um absurdo aquilo.