O FASCISMO E O GOVERNADOR SEM MEDO

O governador do Distrito Federal fez o que a maioria dos seus colegas não faria por falta de coragem mesmo. A decisão de mandar embora o subcomandante da Polícia Federal não é pouca coisa.

A notícia ficou ontem nos cantinhos dos jornais, mas merece ser resgatada. As polícias militares, há muito questionadas em toda parte (e também fora do Brasil), são apontadas cada vez mais como possíveis cúmplices de um golpe.

São muitos os estudiosos das relações das forças militares que fazem a conexão do bolsonarismo com a polícia fardada dos Estados.

É uma relação tão estreita que há até quem veja agora, como nunca teria sido visto antes, uma identificação das Forças Armadas com as polícias, como extensão das alas ditas politizadas de Exército, Marinha e Aeronáutica.

O governador Ibaneis Rocha, do MDB, é considerado homem de direita, eleito na carona de Bolsonaro. Mas teve o peito de denunciar publicamente seu subcomandante como omisso diante dos terroristas que atacaram o Supremo sábado à noite.

Sérgio Luiz Ferreira de Souza, o coronel mandado embora, estava no comando porque o comandante-geral da PM de Brasília, coronel Julian Rocha Pontes, foi infectado pelo coronavírus e está de quarentena.

Souza agiu como se não estivesse acontecendo nada de grave. Claro que foi informado da ação da turma, que jogava fogos de artifício no prédio do STF, mas não afastou e não reprimiu o grupo de 30 militantes dos 300 do Brasil de Sara Winter.

A suspeita é de que ele não foi omisso, mas convivente com a ação do grupo de fascistas. Se não fosse assim, se o governador não tivesse essa certeza, o homem seria chamado para explicações, e não demitido.

Quantos governadores teriam tomado essa decisão, nesses tempos em que em muitos Estados as polícias militares são forças paralelas misturadas a milicianos?

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CHEGA DE NOTINHA
Só faltou Luis Roberto Barroso pedir no Roda Viva que os militares parem de largar notinhas com ameaça de golpe.

O ministro se saiu foi muito bem. O tom da entrevista reafirma o que só alguns não percebem: o golpe é um blefe.

Bolsonaro e os militares querem esticar a corda e blefar o tempo que for possível, mantendo o país assustado.

Essa frase de Barroso foi muito boa:

“Não é totalmente natural você viver um tempo em que sai nota do ministro da Defesa, que sai nota do Clube Militar, que sai nota de militares da reserva”.

E continuou Barroso:

“Portanto, não vou fazer de conta de que não aconteceu nada estranho. Porque nada disso aconteceu no governo de Fernando Henrique, nada disso aconteceu nos dois governos Lula e nada disso aconteceu no governo Dilma. Nada disso aconteceu no governo Michel Temer. Não vou fazer de conta de que não está acontecendo alguma coisa”.

O ministro não disse, mas digo eu. As notas dos militares da reserva não são detestáveis apenas pela ameaça, mas porque são muito ruins.
A direita sempre contou com a ajuda de grandes jornalistas para a redação de textos, declarações e discursos.

Hoje, conta só com o Carluxo e a chinelagem do jornalismo. As notas da direita são poesia da pior qualidade.

Outras declarações do ministro no Roda Viva:
“Eu não acho que se possa dizer que as Forças Armadas estão no governo. Porque isso não existe. As Forças Armadas não pertencem ao governo”.

“As Forças Armadas não podem se identificar com governo algum. Elas são instituições de Estado, instituições da sociedade e sob a Constituição”.

“Não acho que exista um risco real de golpe, até porque não haveria uma causa para darem esse golpe. Mas não vejo com tranquilidade esse excesso de notas vindo de toda parte”.

One thought on “O FASCISMO E O GOVERNADOR SEM MEDO

  1. Está na cara. No minuto seguinte ao tal, anunciado e reanunciado, “golpe policial-militar”, o que sobrevirá é o enfrentamento – e quem sabe expurgos – entre exército e polícias, todos transformados em “forças pessoais” do excelentíssimo sr. Presidente.

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