O FIM DO FACEBOOK?
Uma série de textos vem explicado o estranho comportamento dos algoritmos das redes, principalmente do Facebook. O artigo de Pedro Doria, no Globo de sexta-feira, é esclarecedor.
No desespero, os gestores têm tentado colocar a minissaia na tia, como se dizia antigamente, em busca de rejuvenescimento forçado e de surpresas, para fazer o enfrentamento dos tiktoks.
O resultado é desastroso e pode ser o fim de Facebook e de assemelhados como existem hoje.
Eis o artigo, na íntegra:
O GLOBO
O fim das redes sociais
Pedro Doria
Elas vão mostrando cada vez mais o conteúdo que o algoritmo escolhe em detrimento das pessoas que nós escolhemos
Você lembra quando entrou no Facebook pela primeira vez? Ou no Instagram? No Twitter? Essas são experiências que nunca mais voltarão. Hoje, a vida com as redes sociais é francamente ruim. O Facebook é um grande vazio, o Twitter deixa de mau humor, e o Instagram é pura ansiedade. Mas não era assim. Aliás, era bem o contrário: eram ambientes realmente agradáveis. Ambientes que nos arrancavam sorrisos com facilidade. O veterano analista desse mundo digital Scott Rosenberg sugere que a Era das Redes Sociais tenha, com as últimas mudanças no Insta, acabado. Passou como a Era dos Blogs ou, antes, a Era dos Sites Pessoais. Rosenberg está possivelmente certo.
A grande surpresa sentida por todo mundo quando entrou pela primeira vez no Face foi o encontro de amigos das antigas. Gente da escola, da faculdade, talvez alguns casinhos que passaram. Rostos havia muito não vistos. Era o que fazia, da rede, social. Um jeito de acompanhar gente de quem gostamos, mas que o tempo ou a geografia afastou. Um lugar para encontros. A diferença essencial, naquele Facebook que não existe mais, é que tínhamos pleno controle sobre quem acompanhávamos. Não é à toa que a expressão usada naquela rede era “fazer amizade”. Cada visita era, de alguma forma, uma busca por contato.
O Twitter era outra coisa, completamente diferente. No Twitter, “seguíamos” as pessoas, e a palavra era precisa. Primeiro porque era unilateral, diferentemente do Face. Você seguir alguém não quer dizer que esse alguém o seguisse. Depois porque, no Twitter, o objetivo mesmo era acompanhar o fluxo de ideias ou informações que algumas pessoas traziam. Uma rede para se informar sobre o mundo centrada, evidentemente, em pessoas.
O Instagram, de certa forma, juntou os dois conceitos. Uma rede para seguir os outros, mas não para notícias. Uma rede para compartilhar os momentos da vida. Tinha, claro, um quê de revista de moda — um tom aspiracional. Aquela vida que gostaríamos de ter. Um lugar para sonhar acordado que, evidentemente, logo criou suas próprias celebridades. A ideia de influenciador nasce com o Insta. E aquilo tinha valor comercial nítido sem, no entanto, perder sua característica de ser uma rede lenta.
Nada dessas coisas existe mais. O Instagram, como o Facebook, está mergulhando no modelo TikTok, e é isso que fará com que deixem de ser redes, ora, sociais. No TikTok não adianta muito seguir pessoas, não se faz amizade, a experiência é passiva. O algoritmo, muito eficiente, descobre do que cada um gosta e começa a mostrar. O trabalho de quem entra é deslizar o dedo pela tela, um vídeo curto após o outro. O Insta está ficando assim. Aquela rede de fotografias quadradas de há muito, hoje, está virando TikTok.
A mudança é lenta. Quem trabalha para conquistar seguidores, no Insta, só consegue de um jeito: fazendo reels. Aqueles vídeos curtos com potencial de chiclete. É uma maneira de forçar quem mexe profissionalmente com as redes a se readequar. Basta clicar num vídeo desses e somos tirados daquela tela onde estão os que seguimos. Entramos num ambiente completamente distinto em que deslizamos o dedo passivamente.
O Instagram seguirá o Facebook para se tornar a mesma coisa. Aquelas redes vão mostrando cada vez mais o conteúdo que o algoritmo escolhe em detrimento das pessoas que nós escolhemos. A busca ativa se torna um assistir passivo. E, assim, vão morrendo as redes sociais. Sobrou o Twitter, claro. A experiência não é mais aquela, da descoberta. Mas, bem, não é só lá que o mundo está violento.