O GOLPE AINDA LATEJA E PASSA A SER PERMANENTE

O Brasil, como caso especial, e o Peru sempre em convulsão são apenas na aparência dois cenários à parte nesse momento na América do Sul.

Nos demais países, parece não existir ameaça visível de golpe. Parece. Mas há um golpe permanente em quase toda a região, muitas vezes invisível para os países vizinhos.

É bem provável que o Brasil esteja sendo contagiado, pós-8 de janeiro, por esse modelo de golpe latejante e incessante.

Nicolás Maduro só agora começa a se livrar do golpe permanente de Juan Guaidó, porque o golpista está fragilizado, mas não a sua base.

Há na Bolívia o golpe permanente do fascista Luis Fernando Camacho, preso no mês passado, depois de conspirar sem parar nos últimos cinco anos.

No Peru, Pedro Castillo foi golpeado permanentemente desde que assumiu e tentou reagir com outro golpe, até ser golpeado, e agora sua vice no poder também pode cair.

Luiz Alberto Fernández enfrenta o golpismo permanente de Mauricio Macri, o mafioso que se acomodou ao lado da extrema direita, depois de aparelhar o Judiciário para caçar Cristina Kirchner e o peronismo.

Haverá estado permanente de golpe, com menor ou maior tensão e estruturação, sempre que a esquerda chegar ao poder na Colômbia, como acontece com Gustavo Petro.

Paraguai, Chile, Uruguai e Equador são hoje as exceções na região, cada um com suas particularidades. No resto, o golpe é uma ameaça sempre presente.

É mais do que uma oposição ativa o tempo todo e não só em períodos eleitorais. É o golpismo mesmo.

Não necessariamente para derrubar, mas para atordoar, ameaçar e, quando possível, tomar o poder.

É o que o bolsonarismo deve tentar fazer no Brasil, com uma ‘base social’ permanente, que sustente o ativismo político dos militares.

Sem essa base civil organizada e tensionada, não há golpe militar em moto contínuo, sempre pronto a dar o bote.

São situações banalizadas como guerra híbrida, mas que podem ser mesmo parte da eterna guerra arcaica.

O caso brasileiro é particular. Bolsonaro evoluiu de deputado miliciano para político do primeiro time, foi eleito, ofereceu sua base ampliada aos generais e deles teve o resguardo da tutela fardada por quatro anos.

O golpe permanente, em quase todos os países, combina base orgânica organizada, agressiva, como Bolsonaro conseguiu no Brasil. O lastro militar desfruta dessa base e a inspira.

Não há mais golpes como os ocorridos no Brasil e em toda a América Latina, nos anos 60 e 70, em que a imposição se dava apenas pela força armada dos generais.

O golpismo permanente tem sustentação política civil de base, nas camadas que Guaidó manteve na Venezuela, Camacho na Bolívia e Bolsonaro no Brasil.

O golpismo é estratégia política para sempre, e não um recurso ocasional.

Um golpe deixa de ser uma arma eventual a ser usada em momentos de fragilização de governos de esquerda, e passa a ser incorporado à ação política de direita e extrema direita.

Por isso a repressão aos terroristas visíveis de 8 de janeiro não basta. Conter manés que emitem ou recebem PIX, mesmo que seja necessário e urgente, é chegar à estrutura primária e intermediária do bolsonarismo de guerra.

Sem conter os militares e o manezão que não usa PIX, nada terá resultado no combate ao golpe permanente.

O manezão se recolheu depois das medidas de contenção de Alexandre de Moraes. Foi substituído pelo operador do varejo, que contrata ônibus e paga a mortadela e o hotel de terroristas.

Mas o manezão encoberto, com muito dinheiro, continua atuando, em várias frentes, com seu poder econômico e político.

O manezão é quem mantém ativas as bases do bolsonarismo, mesmo depois da derrota sofrida em Brasília.

É uma base reforçada em 2022 pelo orçamento secreto. Bolsonaro tem o manezão e tem a base com representação em Assembleias e no Congresso (e até o governador do maior Estado).

A dinheirama negociada com o centrão deu à extrema direita, pelo voto, o que o fascismo não teve nem na ditadura dos senadores biônicos.

Há extremistas eleitos como nunca antes, porque a base eleitoral funcionou, mesmo que não a ponto de reeleger Bolsonaro.

O golpe permanente, com a classe média ressentida que não se entrega, os ricos e os pobres a eles misturados, vai tentar esculhambar com o governo de Lula.

Com militares ainda articulados, a remontagem do gabinete do ódio e das engrenagens das milícias digitais e mais a representação no Congresso, o golpe permanente estará sempre engatilhado.

Para abalar, tumultuar, confundir, agredir, disseminar o medo, derrubar torres de energia e fazer com que o governo de Lula esteja sempre se defendendo.  

O golpismo passa a ser a Covid da política brasileira. Aparentemente sob controle, mas ainda mortal, produzindo novas variantes e sempre subestimado.

5 thoughts on “O GOLPE AINDA LATEJA E PASSA A SER PERMANENTE

  1. Com 4 governadores mandando
    Contra, vai ser muito dificil
    Fazer os patriotarios desistirem.
    O stf terá de ter muita força
    Para prender esses babacas,
    Gado mandado. Sc, ms, mg pr.

  2. 49% dos brasileiros têm ódio mortal do lula, o que é um número e tanto para que o golpismo continue vivo. Se o lula quiser manter o mandato, uma tática seria a de aparecer o menos possível e delegar o máximo ao haddad, marina e alckmin. A imagem do lula, a sintaxe que ele usa (smpre repetindo o início das frases diversas vezes, terminando com um “sabe” reticente no final), a voz rouca com um leve tom de revanchismo, o narcisismo (atestado até por seus velhos companheiros), o choro forçado, a falta de conhecimento sobre a bolsa e os juros, tudo isso choca a nação nazi-parda, pobre de direita, fanática e odiosa brasileira. O lula sofre um tipo de bullying. Sendo assim, A resistência a ele é mais pessoal do que uma questão econômica ou ideológica. Sua situação política, então, é até mais confortável do que a de outros líderes de esquerda da américa latina: basta que ele pare de falar e aja nas sombras, impondo sua vontade (a de ajudar os mais humildes e fazer com que o brasil resgate sua soberania) sem que ninguém se dê conta disso.

  3. ?️?️?️ Dois equívocos/esquecimentos, de resto, concordo plenamente:

    1° – O golpe q destituiu Evo Morales na Bolívia, foi aos velhos moldes, ou seja, via aparato militar/policial e violento (muitas mortes).

    2° – Castilho, no Peru, não tentou dar um golpe no golpe, muito pelo contrário, ele evocou um dispositivo constitucional de sua prerrogativa, a qual dissolveria o congresso q queria demovê-lo do poder, via terceira tentativa de impedimento, tendo prazo curto, creio q 60 dias, para novas eleições parlamentares e, conforme prevê a própria constituição do Peru, quando o Presidente é colocado sob suspeita dos congressistas (dois processos de impedimento), ele possui esta prerrogativa constitucional, portanto, legal e democrática.

  4. Para garantir governabilidade com amplo apoio popular, Lula deve tocar pra frente suas promessas de campanha, visando basicamente aquelas reivindicadas pelos movimentos sociais (saúde, emprego, educação, alimentação). Enxugar ao máximo o orçamento das forças armadas, deixando o mínimo suficiente para elas fazerem bem seu papel constitucional, é um objetivo q deve integrar o planejamento do orçamento para os próximos anos. Sem picanha e sem próteses penianas.

  5. Tudo isso é o dedo do Império no “seu quintal”. Se não houver libertação dele, com atitudes preventivas e de expulsão dos infiltrados (como feito na Turquia, no Irã, Cazaquistão, etc.), vai continuar como dantes, no…

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