O GOLPE DO VOTO IMPRESSO

Tem muita gente sugerindo que é fácil tirar de Bolsonaro o discurso pelo voto impresso. Bastaria aceitar a ideia, fazer a eleição, ganhar a eleição na urna eletrônica e no voto impresso, e tudo estaria resolvido.

Tem até gente de esquerda defendendo essa solução. É ingenuidade. Não é isso o que Bolsonaro quer. Bolsonaro não quer eliminar risco de fraude em eleição.

O que ele quer é fazer aqui o que aconteceu na Bolívia, quase aconteceu nos Estados Unidos e acontece hoje no Peru.

Bolsonaro quer a transformação do voto numa grande confusão, com um ambiente de bagunça que coloque a eleição em dúvida e com isso ofereça argumentos aos fascistas.

Não é o voto impresso que elimina a possibilidade de fraude. O voto impresso entrega a Bolsonaro e à extrema direita a chance de promover o que seria o maior tumulto em tempos de democracia no Brasil.

Na Bolívia foi assim em 2019, quando Evo Morales se reelegeu e a direita contestou os resultados com a desculpa da fraude.

No Peru, com a recontagem solicitada pela extrema direita de Keiko Fujimori (com a acusação, entre outras, de falsificação de assinaturas dos membros de mesas eleitorais), o que há é um teste para saber se o país aceita um novo golpe, e o eleito, Pedro Castillo, não chegue nem a assumir.

Claro que, sendo derrotado, como será em 2022, Bolsonaro pedirá recontagem e espalhará suspeitas nos mesmos moldes das espalhadas por Trump. Bolsonaro quer preparar o país para o caos depois da eleição, provocando desencontros nas contagens entre votos eletrônicos e votos impressos onde for possível manipular informações e causar tumulto.

O voto impresso seria a submissão às vontades de Bolsonaro e dos militares. Seria a armadilha para que Bolsonaro, derrotado, tentasse um golpe. Pode até não conseguir apoio para ficar no poder, mas transformaria o país numa Bolívia, como a oposição a Evo fez há três anos.

Com a diferença, talvez, de que a Bolívia derrotou o golpe em apenas um ano e reconduziu a esquerda ao governo. E nós aqui remamos para derrubar Bolsonaro.

Neste sábado, 11 partidos (que em tese têm maioria na Câmara) decidiram votar contra a proposta bolsonarista que começou a tramitar na casa.

Uma curiosidade sobre a eleição do ano que vem é que Alexandre de Moraes, que apavora há muito tempo o bolsonarismo, irá presidir o Tribunal Superior Eleitoral no ano da eleição.

O ministro é, claro, contra o voto impresso. Será uma eleição tensa, se Bolsonaro não cair antes.

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BISOL
Já contaram tudo sobre José Paulo Bisol. Vou acrescentar apenas uma história muito pessoal sobre esse grande brasileiro que morreu no sábado aos 92 anos.

Em 2016, fui cercado pela direita (e pela extrema direita que se preparava para chegar ao poder) e tive de deixar Zero Hora.

A direita achava que eu tinha muito espaço no jornal. Decidi largar tudo enquanto ainda estava inteiro. Recebi dias depois um telefonema solidário de Bisol, com uma frase singela: “Tem a hora de ir embora”.

Combinamos e nunca cumprimos a promessa de que iríamos reunir uma turma e jantar em Porto Alegre. Bisol foi um grande cidadão, um humanista raro e um cara que escrevia e falava poesia.

3 thoughts on “O GOLPE DO VOTO IMPRESSO

  1. Foi a melhor coisa que tu fez , sair do convívio daqueles canalhas que hoje estão, todos ou quase todos , tentando convencer os otarios de que nunca teriam votado ou feito propaganda para o Jail bosta. Quando ouço as críticas feitas pelos comentaristas canalhas da gaúcha ao Genocida eu fico pasmo com a hipocrisia

  2. Talvez o TSE seja mais firme em suas declarações com o ministro Alexandre de Moraes à frente. Barroso passa muito o pano para as acusações de fraude eleitoral feitas por bolsonaro. Lira e Pacheco também tem responsabilidade pelos desatinos do genocida. Basta.

  3. Sufrágil

    Desconfio das urnas eletrônicas desde sua adoção no país. Sempre achei temerária a falta de evidências tangíveis da vontade do eleitor. Não parece razoável a ideia de auditar voto sem voto, conferindo números gerados por códigos digitais.

    Os defensores do sistema fogem de questões técnicas envolvendo sua segurança. Ora se apegam à relativa simplicidade operacional e à rapidez do método, ora tratam o TSE, a PF e as empresas licitadas como fiadores das próprias competências e idoneidades.

    A mentira do endosso internacional ajuda a ocultar os problemas levantados pelos países que testaram e reprovaram a urna eletrônica. Alemanha, Holanda e Irlanda, por exemplo, afirmaram que ela não permite sequer a detecção de eventuais ilícitos.

    A mídia ignora os estudos publicados, inclusive de universidades brasileiras. Ninguém dedica ao assunto o rigor científico exigido nos debates sobre a pandemia. O aval de pesquisas acadêmicas revisadas não é importante para definirmos como votamos.

    Essa postura, negacionista a seu modo, ressuscita o clima do triunfo da Lava Jato. As instituições funcionam e garantem a urna programada. Os incrédulos são teóricos da conspiração ou, pior, inimigos de um “processo democrático” sólido e transparente.

    Antes de abraçarmos uma narrativa oposta aos planos de Jair Bolsonaro, deveríamos ter certeza de conhecê-los. A suposição de que pretende apenas desacreditar os resultados vale tanto quanto as outras imagináveis. É a mais amena delas, na verdade.

    Hipoteticamente, as bravatas de Bolsonaro podem estar preparando terreno até para um ataque às urnas. Se não uma fraude que lhe dê a vitória, um defeito qualquer que anule a votação. O álibi no mínimo fortaleceria o presidente em caso de nova disputa.

    A pujança democrática do país obriga-me a salientar que se trata de mera especulação. Não temos motivos para imaginar conluios unindo células golpistas da PF e agentes militares de inteligência que trabalham em segredo para o governo. São todos patriotas.

    Na minha paranoia, contudo, vivemos sob um regime despótico encarregado de gerir o vulnerável sistema de votação do qual dependemos para superá-lo. Os fascistas desse pesadelo são atualizados e proativos. Têm apoio nas cortes e nas polícias.

    É fácil exigir provas de mentiras sabidamente improváveis. Mas o outro gume da faca também corta: o acusador futuro talvez venha a ter razão. E os justos ficarão limitados ao mesmo escrutínio falho e inconclusivo que outrora permitiu calar os mentirosos.

    Os democratas caem numa armadilha quando se comprometem com a urna eletrônica. Desqualificam de antemão suas possíveis denúncias contra a tutela bolsonarista do equipamento. Naturalizam a imprevisibilidade e assumem riscos desnecessários.

    Urge discutir a tecnologia eleitoral cientificamente, sem republicanismo ingênuo. Se for necessário, reivindicar a impressão do voto. A disputa com Bolsonaro é séria demais para dependermos de amostragens irrisórias e somas redundantes de boletins de urna.

    http://guilhermescalzilli.blogspot.com/2021/06/sufragil.html

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