O HUMANISTA E O RESPEITO DA DIREITA

Com apenas 30 anos, José Zalaquett foi um dos líderes do movimento de advogados do Chile que se aliou à Igreja Católica, no Comitê Pró-Paz, para enfrentar a ditadura de Pinochet a partir de 1973.

Zalaquett arregimentou colegas para que prestassem assistência jurídica gratuita a presos e perseguidos e ao mesmo auxiliassem em investigações sobre torturas e todo tipo de arbitrariedade.

Zalaquett, uma das maiores expressões da militância pelos direitos humanos no Chile, foi preso pelos militares, mas resistiu e teve sua luta reconhecida mundialmente. Morreu ontem aos 77 anos.

O advogado da democracia foi expulso do país pelos militares em 1976 e viveu por uma década no exílio, até voltar a Santiago em 1986. Mesmo fora do país, continuou militando e denunciando as atrocidades da ditadura na Anistia Internacional.

Coordenou a Comissão da Verdade e da Reconciliação e presidiu a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A morte de Zalaquett está até na capa dos jornais de direita do Chile.

O advogado e professor sempre foi uma referência forte para os jovens que saem às ruas desde outubro contra o governo de direita de Sebastián Piñera.

E o que disse Piñera sobre o líder humanista que historicamente atuava em lado oposto? O presidente escreveu no Twitter:

“A morte de José Zalaquett significa uma grande perda para sua família, para a causa dos direitos humanos e para o Chile. Devemos muito a José, que sempre esteve aberto ao diálogo e a colaborar com as boas causas”.

Reproduzo a mensagem de Piñera porque nada parecido aconteceria no Brasil. Bolsonaro e nenhuma autoridade hoje no poder, mas nenhuma mesmo, seriam capazes de reconhecer a militância de um humanista da dimensão de José Pepe Zalaquett Daher.

No Brasil, Bolsonaro comenta apenas a morte de milicianos amigos da família.

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