O PRIMEIRO BAILE E O MASSACRE DE PARAISÓPOLIS

O primeiro grande baile funk de Porto Alegre aconteceu em abril de 2001, no Gigantinho. Pode ter sido o maior baile funk de todos os tempos no Estado.

Eram mais de 4 mil pessoas na quadra e nas arquibancadas. O funk apresentava-se como novidade para os gaúchos. Veio gente do Rio para organizar a festa. Eu vi, eu estava lá.

Os bailes, já naquela época, ainda longe do bolsonarismo, atraíam todo tipo de preconceito da direita moralista e dos que odeiam negros e pobres.

Eu queria saber o que era um baile funk. Com meu amigo Júlio Cordeiro, que fez as fotos, ficamos até o dia clarear e apresentamos um relato de duas páginas em Zero Hora.

Podemos dizer que ajudamos a divulgar o funk e reforçar o combate às tentativas de estigmatização da arte e das festas dos funkeiros. Ronaldinho Gaúcho apareceu no ginásio do Inter, protegido por um capuz, para não mostrar a cara na casa dos colorados.

Me lembro do estudante Mário Roberto Gomes de Lima, 18 anos, morador da Restinga, com uma camiseta preta e a inscrição no peito: 100% negro. O guri era o que o IBGE cadastra como pardo. Mas ele queria ser reconhecido como 100% negro. Nunca tinha visto uma camiseta como aquela, que depois se popularizou.

Mário tem 36 anos hoje. Faz o quê? Mora onde? Me lembrei dele e do baile por causa do massacre de Paraisópolis. A maioria dos 10 mortos tinha idade semelhante à do adolescente de 2001.

De lá até aqui, o preconceito ficou ainda mais cruel e foi politizado pela direita, e os massacres ganharam suporte “jurídico”. Matavam muitos negros em 2001, sempre mataram, por qualquer motivo. Agora matam com a proteção do discurso oficial e das iniciativas bolsonaristas de Sergio Moro.

Matam porque, na Era Bolsonaro, assassinos fardados não temem mais nada. Um ex-juiz diz que podem matar se sentirem medo, se apresentarem desculpas sobre alguma surpresa ou se estiverem sob forte emoção. Ainda não é lei, mas está na fala de um ministro da Justiça.

Matam porque muitos ficam impunes e mais adiante, com a lei de Moro, todos ficarão. O bolsonarismo se sente desconfortável com a festa das comunidades. O racismo bolsonarista odeia a alegria dos negros.

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