O projeto do emburrecimento

Até os biguás do Lago Paranoá sabem que a argumentação jurídica de tucanos, jaburus e outras aves foi o de menos para a cassação de Dilma Rousseff.

A controvérsia sobre as pedaladas irá se arrastar até o fim dos tempos, com juristas alinhados em lados opostos, dependendo principalmente da ideologia de cada um. E não haverá consenso sobre a farsa do tal crime.

Só os que não entendem nada do que aconteceu, e não sabem nada de leis, têm alguma certeza a respeito. Eles e Janaína.

Não há argumento puramente técnico em um enredo como este. A desculpa da análise fria e técnica é apenas uma desculpa dos golpistas.

O golpe foi resultado de um jogo político pesado. Mas, sem surpresas, é de novo a desculpa da argumentação jurídica que prevalece no esforço dos que tentam anular a decisão do Senado de preservar dos direitos de Dilma.

Para esses, a decisão sobre a cassação foi soberana, sendo sustentada por argumentos jurídicos frouxos ou por deliberação política. Até porque vale, segundo muitos, o pretexto do conjunto da obra.

Mas para o tal fatiamento, que livrou Dilma de ter os direitos cassados, vale agora a argumentação de que o Senado não é assim tão soberano. E que essa decisão pode ser questionada no Supremo. A autonomia do Senado é jogada num canto.

Tudo isso mostra como a direita tenta continuar manobrando como pode na defesa de seus pontos de vista esdrúxulos. Mas aceitar o modo como o jornalismo entra nessa conversa já é demais.

A direita pode tentar idiotizar o país. Mas os jornalistas têm a obrigação de se oporem a tal tentativa, ao invés de aceitá-la com resignação.

Em alguns casos, o jornalismo não só aceita esse jogo, como contribui no projeto golpista pelo emburrecimento geral. Mas aí os biguás sabem que já é outra história.

 

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