A OUSADIA DO SERGIO MORO ARGENTINO

A grande imprensa argentina faz lá o que a grande imprensa de direita faz aqui com os delitos da Lava-Jato: esconde o escândalo envolvendo o Sergio Moro deles, o presidente da Câmara Federal de Revisão Penal, Gustavo Hornos.

Hornos (foto) foi denunciado publicamente por deputados peronistas como amigo e confidente de Mauricio Macri quando este era presidente. As notícias sobre ele só aparecem nos jornais de esquerda.

O juiz é na verdade mais poderoso do que Moro. A Câmara é um tribunal de instância superior, onde são decididas controvérsias antes do encaminhamento dos processos à decisão final da Corte Suprema.

Pois Hornos tratava de processos envolvendo inclusive Cristina Kirchner, caçada pelo Judiciário argentino há anos, e outros adversários de Macri.

Até mesmo processos em que a família mafiosa de Macri está envolvida passavam e passam pelo tribunal. Pois o juiz costumava frequentar a Casa Rosada.

Ele esteve não uma nem duas vezes na Casa Rosada, de 2015 a 2018. Esteve seis vezes. O que eles conversaram é o que o sistema de corregedoria da Justiça deve esclarecer.

Todos sabiam que o juiz era ligado à direita, mas não que tivesse a ousadia de visitar Macri na sede do governo (há muitos outros Sergios Moros na Argentina).

Uma das visitas foi feita às vésperas de uma decisão num dos processos criados contra Cristina, encaminhado à Corte Suprema.

A soberba do juiz e de Macri era tanta que os encontros estavam registrados numa agenda da Casa Rosada, só agora descoberta por informantes de deputados de esquerda.

Outra diferença entre Hornos e Sergio Moro é que o justiceiro brasileiro não visitava os poderosos da direita. Pelo menos não se sabe nem de visitas de Moro a Michel Temer, o jaburu do golpe.

A outra diferença é que aqui Moro, o discreto, foi trabalhar, não para a direita, mas para a extrema direita no giverno. Na Argentina, o juiz amigão da máfia dos Macri pode ser cassado.

Aqui, Moro é prestador de serviços à empresa de consultoria internacional Alvarez & Marsal, que casualmente trabalha para a Odebrecht.

Mas Moro não está tranquilo. O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, quer saber o que diz o contrato da Alvarez & Marsal com o ex-amigo de Bolsonaro.

Dantas pediu esta semana que a empresa esclareça logo se o contrato celebrado com o ex-juiz se trataria, na verdade, da compra de informações privilegiadas obtidas pelo então magistrado.

É grave. É o TCU envolvendo-se no esclarecimento da suspeita de que Moro levou para seus patrões informações da empresa que ele mesmo investigava.

A suspeita mais grave é esta: Moro pode ter contribuído deliberadamente para a quebra da Odebrecht, para depois beneficiar a consultoria com o que sabia a respeito da empreiteira.

Resumindo: Moro participou do esquema da Lava-Jato que acabou destruindo a Odebrecht, e agora está envolvido no plano de salvação da Odebrecht.

Era preciso quebrar a empreiteira, para que depois seus amigos consultores cobrassem para salvá-la.

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