O SUPREMO E OS BOLSONAROS
Para que os mais esquecidos não se esqueçam. O Supremo que desqualificou hoje um de seus ministros é o mesmo que tem em uma gaveta, desde 2014, dois processos contra Jair Bolsonaro por injúria e incitação ao estupro.
Esse mesmo Supremo, ao ser provocado este ano pela Procuradoria-Geral, deu prazo de 15 dias, a contar do último dia 12, para que o deputado Eduardo Bolsonaro explique as ameaças de morte que fez contra uma ex-namorada, a jornalista Patrícia Lelis.
Os processos contra o Bolsonaro pai ficarão parados no STF, porque ele não pode ser julgado por atos cometidos antes de assumir a presidência da República. Somente terão sequência, se tiverem, depois de seu mandato.
Mas o caso de Eduardo Bolsonaro pode ser levado adiante. O filho que ameaçou a jornalista (em mensagens gravadas) é o mesmo que, em palestra, disse que o Supremo poderia ser fechado pela ação de um soldado e de um cabo.
O Supremo que engavetou os processos contra o pai tem agora a chance de demonstrar que enfrenta o filho, como enfrentou Marco Aurélio Mello, com tanto destemor e tanta galhardia.
Pai e filho são acusados de ofender mulheres. O Supremo, até bem pouco tempo sob a presidência de uma mulher, teve a chance de levar pelo menos o caso do pai adiante. Preferiu escamotear.
Se agora enfrentar o filho, não muda muita coisa, mas pode mostrar que a mais alta Corte do país não teme a família que chegou ao poder. Se o pai já escapou, que o filho pelo menos dê explicações.
Para que os esquecidos também não se esqueçam, o Supremo foi a instituição que permitiu que o golpe contra Dilma Rousseff corresse frouxo, sem empecilhos. E que se submeteu a todas as ações, mesmo as ilegais, do juiz Sergio Moro durante a Lava-Jato.
O último ministro do STF a tentar enfrentar Sergio Moro se chamava Teori Zavascki.
Mas Teori está morto desde janeiro de 2017, e Sergio Moro será superministro de Bolsonaro.