O que vale um voto nulo?

O voto nulo teria de ser devastador, para que surtisse algum efeito político, simbólico e “moral” no segundo turno em Porto Alegre.

Sim, sabemos que os defensores do voto nulo ou em branco não esperam necessariamente nenhum resultado imediato desse gesto. Mas não há como não tentar imaginar o que pode acontecer.

A pesquisa do Ibope ontem deu 45% para Marchezan e 33% para Melo (nos válidos, dá 58% a 42%).

Para 18,2% dos pesquisados, a opção pode ser branco ou nulo. No primeiro turno, brancos e nulos somaram 15,9%, o mesmo índice de São Paulo.

No Rio, brancos e nulos ficaram em 18% no primeiro turno, e algumas pesquisas indicam que poderão chegar a 21% no segundo.

O que isso significa, considerando-se as realidades de Porto Alegre e do Rio? Que a diferença, como impacto real, entre 16% ou 18% de brancos e nulos, no caso de Porto Alegre, é quase nenhuma, levando-se em conta o que a pesquisa indica. No Rio, as distâncias entre Crivella e Freixo, hoje, são ainda maiores.

Não são dois pontos percentuais a mais em brancos e nulos que vão decidir a eleição, pelo que o Ibope mostra. Melo terá de buscar reforço na periferia (se é que Marchezan já não se adonou também dos corações e das almas dos mais pobres) ou torcer para uma reviravolta.

Mas há outra hipótese que pode ajudar na tentativa de salvar Melo como forma de evitar Marchezan. Em um movimento inverso ao das expectativas, o índice de brancos e nulos poderia cair drasticamente no segundo turno. Será? É viável?

O eleitor à esquerda pode votar em massa em Melo para se livrar de Marchezan? A abstenção também pode cair?

Anular o voto é um gesto extremo, mas legítimo, é óbvio. Num contexto em que um golpe desconsiderou 54,4 milhões de votos e derrubou Dilma, é natural que muitos não queiram saber de votar (incluindo as abstenções).

Mas os que pretendem depreciar o voto e apostar também num desastre de um governo de direita em Porto Alegre podem se preparar para outro cenário. Daqui a dois anos teremos eleição para o governo do Estado.

A direita tucana pode ficar mais de uma década no poder, sem muito esforço. E o PMDB? O PDMB é o laranja do golpe, o partido que guarda lugar para o plano do PSDB de aplicar, a qualquer momento, o golpe dentro do golpe no próprio PMDB.

O problema é que, assim como a classe média antiPT já o abandonou, Melo poderá (pelo resultado devastador da pesquisa do Ibope) vir a ser abandonado também pelos que ainda o enxergavam como uma forma de evitar Marchezan.

Talvez a saída mesmo para as esquerdas seja recolher-se para dentro do mato e tentar uma reorganização, pensando em uma volta ao poder para daqui a… quantos anos?

 

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