OS FALSOS BOLSONARISTAS
Quais são os maiores estragos do bolsonarismo? O maior, o dano indiscutível, é o da destruição do que resta de coesão social. No sentido mais amplo, do extermínio de conquistas elementares de pobres e miseráveis.
O cineasta Fernando Meirelles abordou, em declarações desta semana, o que talvez seja outro dano ainda não bem medido e que pode ser, pelo menos para a classe média, maior do que os prejuízos econômicos e políticos, que um dia serão reparados.
Até os danos nas áreas da educação, da cultura e dos costumes poderão ser revertidos com o fim do período de trevas. Mas um estrago é profundo. Bolsonaro dividiu as famílias e os afetos ao meio, em alguns casos com embates irreversíveis.
“Famílias estão se separando por causa desse cara. Isso é realmente estúpido, e ninguém fala com o outro. Então, a tolerância se torna algo realmente raro no meu país”.
Podem dizer que essa é uma conversa antiga, só dos brancos, e que os bolsonaristas já existiam (e existiam mesmo), em outro estágio, e que a extrema direita só exacerbou o que era administrado. Os reacionários mudaram de nível e chegaram ao topo.
O reacionarismo antes encoberto, protegido pelo tucanismo, controlado por algum esquema familiar de moderação, agora está liberado. O fracasso do golpe liderado pelos tucanos contra Dilma gerou Bolsonaro, criado pelos próprios tucanos.
O que Meirelles diz parece óbvio e repetitivo, mas o Brasil precisa ouvir frases óbvias, para que uma hora saia do atoleiro do bolsonarismo.
A ação política reparadora de condutas terá de ser feita dentro de casa, para que pretensos bolsonaristas voltem a ser apenas coxinhas. Coxinhas chatos, mas toleráveis.
Há muita gente que pensa ser bolsonarista mas não é. Não são ideológicos, nem pragmáticos, são ocasionais, eventuais, estão no lugar errado com a turma errada.
São falsos bolsonaristas. Esses precisam de uma conversa, como aconteceu no fim da ditadura. É dureza, mas não tem outro jeito. Quem começa?