OS JECAS E O VÉIO DO MADERO

A filial do Madero de Balneário Camboriú está em todos os relatos sobre o início do sucesso do grupo. Foi ali, quando decidiu sair do Paraná, que a marca de Luiz Durski Junior começou a acontecer, até chegar hoje a uma rede de mais de cem restaurantes.
Fui testemunha do surgimento da lancheria-restaurante, porque sou veranista juramentado de Balneário. A filial (foto) instalou-se em 2010 numa esquina da Avenida Atlântica com seu hambúrguer, no circuito gastronômico do turismo que oferecia basicamente peixe.
Na placa, ao lado do nome, lia-se: The Best Burger in The World. O melhor hambúrguer do mundo foi um fracasso. Me lembro do espaço vazio, dos funcionários pelos cantos e das pessoas circulando em volta na calçada, olhando o cardápio dependurado num cavalete.
Olhavam, assustavam-se e seguiam em frente. Eu seguia junto. Era caro demais para um hambúrguer, por mais gourmet que fosse. Um Burger King, logo adiante, na mesma avenida, custava um terço.
No veraneio seguinte, a mesma coisa. Pouca gente. Era um negócio (surgido cinco anos antes em Curitiba) que parecia não ter dado certo. Mas a partir do terceiro ano a casa começou a bombar. Formavam fila na calçada. E finalmente eu decidi entrar, sem saber nada sobre o produto e a origem da marca. Todos entravam.
Admito que o hambúrguer é uma bomba saborosa demais. Caro, mas com qualidade muito acima da média. Descobri, em conversa com funcionários da filial, que todos os trabalhadores vinham de Curitiba e eram instalados em Balneário, com casa e comida.
O homem só confiava em gente da sua terra, treinada para fazer a coisa certa. Também por isso Luiz Durski Junior é um desses fenômenos que muitos não entendem direito. Cresceu ainda mais com dinheiro de Luciano Huck e do Fundo americano Carlyle e chegou ao faturamento de R$ 1,1 bilhão.
Por que esse caboclo, o cozinheiro que ficou rico depois de homem feito, decidiu se apresentar agora como bolsonarista? Por que não se contentou em ficar famoso fazendo o que diz ser o melhor hambúrguer do mundo?
Saiu falando porque caiu na tentação do jeca. Se o véio da Havan ganhou fama e consumidores como um dos líderes da extrema direita empresarial, não seria bom imitar o véio?
O perfil bolsonarista de todos os empresários novos ricos é parecido. Sem histórico familiar de abundância e fortuna, tornaram-se empreendedores dentro do modelo dos que se fazem sozinhos. São atrevidos e autodidatas. Lidam com produtos e serviços básicos.
São simplórios, ingênuos, moralistas, algumas vezes ‘religiosos’ e politicamente extremados.
O novo rico bolsonarista tem certeza de que seus medos do comunismo são genuínos, não são inventados. O medo inventado é o de Bolsonaro, não o deles.
Esses jecas empreendedores se fartaram com os consumidores pobres que ficaram endinheirados nos 13 anos de governos do PT. Enriqueceram nesse período. O Madero, que pega a classe média também favorecida pela prosperidade do período lulista, surgiu dois anos depois da posse de Lula. Mas ele e os outros amigos bolsonaristas parecem negar esse tempo de fartura.
É o que temos hoje. Não temos mais Mario Amato, nem Antônio Ermírio de Moraes. A direita empresarial se expressa por Paulo Skaf (alguém sabe o que Paulo Skaf faz?), pelo véio da Havan e pelo véio do Madero. Todos esses jecas têm, na essência, um jeito Sergio Moro de ser.

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