OS JORNALISTAS SALVOS PELA PANDEMIA

Até a semana passada, amontoavam-se os jornalistas dependurados numa gangorra de apoio a Bolsonaro muitas vezes de forma dissimulada, com uma certa fofura constrangida, mas sem coragem para abandonar o homem.

O Rio Grande do Sul tem muitos jornalistas fofos bolsonaristas da linha mais gourmet. Sustentaram-se até agora nesse balanço incômodo, fazendo média com o homem, com Sergio Moro, com Onyx (os jornalistas gaúchos adoram Onyx) e com os filhos de Bolsonaro.

Mas Bolsonaro radicalizou demais e muitos saltaram fora. Estão em distanciamento social do fascismo que apoiaram até aqui. Todos os Estados têm seus ex-jornalistas bolsonaristas.

Vão saltando do barco de Bolsonaro como os aliados do meio cultural fizeram muito antes. O mar dos ex-bolsonaristas é morno e acolhedor.

Pois esse tipo de jornalista (gente de opinião, da cozinha das redações, e poucos de campo mesmo), que fazia o jogo de Bolsonaro, só para poder bater em Lula e no PT, foi salvo pela pandemia.

Sem a ameaça do surto, eles continuariam fazendo jogo duplo e enfrentando constrangimentos. A maioria se apresentava como profissionais sem lado. Mas agora governadores e prefeitos são inimigos de Bolsonaro. Até Caiado virou adversário do homem.

Os jornalistas ficaram numa saia justa. Apoiavam prefeitos e governadores, muitos deles bolsonaristas, e passavam o pano para Bolsonaro, sempre com ‘posições críticas’.

Chegaram a vacilar, à espera de definições dos seus líderes, e estão agora com os governadores, com os quais têm compromissos regionais. É com eles que devem ficar.

Não são mais nem jornalistas ‘neutros’. Batem em Bolsonaro como a Globo vem batendo. Os jornalistas de direita da Globo são há muito tempo os mais progressistas do Brasil. Alguns são perigosamente esquerdistas.

Mas que fique claro que os novos dissidentes só largaram o sujeito na carona dos impactos provocados pela doença. O coronavírus salvou essa gente de ter de cortejar Bolsonaro até o fim do governo.

Quase todo mundo virou combatente da pandemia, humanista e sanitarista. Nada como uma peste braba para reenquadrar o jornalismo duas caras.

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