Os juízes

Quando parte do Brasil ainda estranha que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral viaje de carona com o presidente da República (personagem de processo a ser julgado por este mesmo TSE), antes de qualquer insinuação, o que há é isso mesmo, um estranhamento.
Assim como, antes de qualquer suspeita, há também estranhamento quando o juiz que comanda a Lava-Jato aparece em fotos com sorrisos na diagonal com o investigado, e nunca processado, Aécio Neves.
Não adianta o juiz dizer que nunca investigou Aécio, que este tem foro privilegiado e que qualquer suspeita envolvendo o tucano deve ser tratada não por ele, mas pelo Supremo.
O juiz já ouviu, em meia dúzias de delações, que a irmã de Aécio recebia, em nome do senador, mesadas (no caso tucano não se trata de propina) de um preposto do PSDB em Furnas. A irmã de Aécio não tem foro privilegiado.
E já ouviu outras histórias envolvendo tucanos, entre as quais a estranha aventura de Pedro Barusco, o ladrão avulso (que está solto), que teria roubado sozinho US$ 97 milhões da Petrobras. Ninguém acredita nesta história.
E já ouviu a história da propina de R$ 9 milhões para o ex-senador tucano Sergio Guerra (que assim teria evitado a primeira CPI da Petrobras, em 2009), que está morto, mas seus parceiros estão bem vivos, além de muitas outras e outras.
O que parte do Brasil pede é que seus juízes tenham bons modos. Que, assim como um juiz não se sentiria bem ao lado de um investigado por tráfico, que os juízes tenham a mesma compostura com políticos investigados por delitos pesados.
Ah, dirão, mas são autoridades e todos usam gravata. São, mas estão sob suspeita ou sob investigação no complexo e promíscuo ambiente da política brasileira.
Nesse contexto de desconfianças, um juiz precisa ser exemplo de sobriedade. Um juiz não pode aparecer sorrindo ao lado de um investigado que, para complicar o flagrante, sempre consegue ficar impune.
Nem viajar de avião com alguém que, apesar de estar na presidência, também está sob a acusação ter cometido crimes que não são pedaladas.
Os juízes têm a obrigação de cuidar mais não só das suas imagens, mas principalmente da imagem já precária do Judiciário brasileiro. E outros juízes deveriam cobrar (como alguns, em minoria, já cobram) que seus colegas sejam menos arrogantes, menos imperiais e menos seletivos.

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