OS NEGROS DE MINNEAPOLIS

Conto apenas como curiosidade e depoimento pessoal. Há muito tempo andei por Minneapolis e Saint Paul e quase não vi negros.

É estranha a sensação de que posso ter passado pelos lugares que se transformaram agora em chamas e ruínas em Minneapolis, onde um policial branco matou o segurança George Floyd porque era um suspeito negro.

Andei por lá no verão deles de 1993, fiquei uma semana entre Minneapolis e Saint Paul, num antigo programa do governo americano que levava jornalistas de todo mundo a várias regiões do país.

Me lembro do ambiente caipira, das ruas com pouca gente, das caminhonetas velhas de filme de estrada e do Mall of America, que era então o maior shopping do mundo, onde as pessoas em grupo nunca mais se achavam, se decidissem se dispersar.

Passei uma tarde no shopping, peguei um ônibus ao acaso na parada dentro do estacionamento.

Pretendia andar sem rumo, e o ônibus viajou pela cidade, passou pela margam do Mississipi, percorreu bairros com o casario de madeira do início do século 20, foi indo, indo, fazendo paradas, e me devolveu ao hotel em que eu estava em Saint Paul.

Eu queria sair a andar sem saber para onde iria, numa viagem sem roteiro, para talvez poder me perder, e o ônibus percorreu os 20 quilômetros entre uma cidade e outra e me largou na porta do hotel. Como se fosse um recado: não ande por aí sem destino.

Me lembro que em Saint Paul as pessoas andavam por passarelas de ferro e vidro, que uniam um prédio ao outro, por causa do frio. Vi poucos negros nas ruas de Minneapolis, a cidade de Prince, e não vi nenhum negro em Saint Paul. Nenhum.

Eram cidades brancas. Um brasileiro melancólico que morava lá havia seis anos se queixava do tédio, contava que a única atração eram os lagos e que aquela era uma terra de nórdicos. Era carioca, queria voltar. Mas não era verdade, Minneapolis sempre foi uma cidade musical.

Há um detalhe em imagens que mostram protestos e incêndios. São muitos os jovens brancos, com punhos erguidos, nos grupos que reagem ao assassinato de George Floyd nas ruas.

Vemos agora a rebelião pelo assassinato do homem negro e pensamos que ainda há nos Estados Unidos cidades com escolas só de brancos. Porque sempre foi assim e assim fica sendo.

É uma realidade que se ilumina com a frase do ator Will Smith: “O racismo não está piorando, só está sendo gravado agora”.

E no Brasil? Aqui a polícia mata seis pobres brancos, pardos ou negros por dia nas favelas do Rio. Seis por dia.

É do cotidiano, é quase terrivelmente normal, sem filmagens, quase sempre sem testemunhas, sem comoção internacional e sem punidos.

É o que acontece. Apenas comento em voz alta o caso deles e os nossos porque não há como comparar.

Há um fogaréu em Minneapolis. Vai ficando aquela sensação de que passamos um dia por lugares tranquilos, com seus caipiras branquelas, para onde nunca mais voltaremos, e que tempos depois viram vulcões. Mas isso só acontece nos países dos outros.

One thought on “OS NEGROS DE MINNEAPOLIS

  1. Minneapolis apenas?? Rsrs.

    FINALMENTE esse povo dos EUA, brancos e negros, estão acordando. Eu me sinto da mesma forma que eles.

    Houve incêndios, conflitos, prisões em vários estados até saques, já que milhões foram demitidos, como o Floyd. Se a nota de 20 dólares era falsa ou não, o cara não estava armado e já tinha sido controlado. Não justifica o que fizeram.

    Cadê o eleitorado “armado” de Trump? Onde se esconderam?

    O povo marchou em direção a Casa Branca enquanto Trump SE BORRAVA TODO. Rsrs.

    Só espero que as coisas mudem a partir daí e não me refiro apenas a negros, embora os jornais Brasileiros tenham sempre o cuidado de esconder as passeatas e protestos lá.

    Tá na hora de acordar US!! Se não começarem a mudar agora, não mudam nunca mais.

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