OS QUE NÃO SE AJOELHARAM

É forte a cena do domingo na Fórmula1. Antes, aviso que não vejo nada desde a morte de Ayrton Senna. Nunca mais vi uma corrida, uma só, nem só o começo, nem o meio, nem só o fim. Não sou entendido no assunto nem conheço os pilotos.

Sei deles pelas notícias soltas, mas não sei mais nada das provas. Foi assim que fiquei sabendo que seis dos 20 pilotos que disputaram o GP da Áustria não se ajoelharam em condenação ao racismo, no gesto liderado por Lewis Hamilton.

Não são ‘apenas’ seis. São muitos num grupo de 20. São 30% daquela turma.

Sei que Hamilton é excepcional como piloto e uma cabeça privilegiada. Mas nada sei dos outros. Para mim, Max Verstappen, Antonio Giovinazzi, Carlos Sainz, Charles Leclerc, Kimi Raikkonen e Daniil Kvyat são nomes que leio e escuto ao acaso. Da metade, nunca tinha ouvido falar.

Por que eles não se ajoelharam? Respostas genéricas que li dizem que eles não precisam provar que não são racistas e que condenam o racismo.

Ninguém precisa ficar tentando dizer a todo momento que não é racista. Nem que deve assinar todos os manifestos com apelos humanistas que apareçam.

Ninguém deve ser obrigado a se submeter ao comando sumário dos que combatem o racismo, a homofobia, a xenofobia.

Mas ali a situação é outra. Ali o gesto coletivo seria importante, em defesa da humanidade, e não só dos negros. Em defesa da civilização, da não-violência, das liberdades.

Os seis que não se ajoelharam fizeram um gesto equivalente ao de Lewis Hamilton em sentido contrário. Não se ajoelhar, ali naquele momento, não é ser neutro, indiferente ou tampouco omisso.

Não se ajoelhar, ali naquelas circunstâncias, numa cena exposta para o mundo, foi ceder às pressões do racismo. Foi admitir que não cometeriam um gesto que ofenderia seus admiradores brancos e racistas.

Há duas cenas interessantes no vídeo com link abaixo do texto. Na primeira, três pilotos chegam correndo, atrasados, porque não queriam perder a foto, e dá para ver que pelo menos um deles se ajoelha.

Na outra cena, Antonio Giovinazzi parece que vai se ajoelhar, mas iria mesmo pegar uma peça de roupa no chão.

Há momentos em que se ajoelhar é preciso. Sem desculpas, sem
conversas enrolativas.

Os que não se ajoelharam ainda falarão da decisão que tomaram, não para o público, mas para eles próprios e os que com eles vivem.

(No link abaixo, o vídeo)

https://youtu.be/o6CExKmEV10

One thought on “OS QUE NÃO SE AJOELHARAM

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