OS URUGUAIOS RESISTEM
Os uruguaios viram ontem uma manifestação improvável no Brasil. Mais de mil pessoas se concentraram no centro histórico de Montevidéu, carregando cartazes com fotos de assassinados e desaparecidos na ditadura.
Mães e familiares das vítimas dos militares foram reclamar a abertura de relatórios com depoimentos de assassinos à Justiça Militar.
Um desses depoimentos pode provocar a abertura de processo contra o senador e general reformado Guido Manini Ríos, acusado de ocultar a confissão de um torturador e matador da ditadura.
Os familiares de mortos e desparecidos querem mais. Querem saber quem, além de dois oficiais reformados, confessaram que matavam inimigos do regime nos anos 70 e 80. Eles pedem acesso às atas dos depoimentos.
A partir de amanhã, o Senado começa a decidir se vota o fim do foro privilegiado de Manini Ríos, solicitado pelo Ministério Público. O desfecho é imprevisível.
Mas as manifestações do fim de semana, que devem ser reforçadas nos próximos dias, colocam o Senado contra a parede.
Se Manini Ríos for protegido, o Uruguai, sob o governo de direita do presidente Laccale Pou, poderá enfrentar novo tensionamento político com gente nas ruas.
Também lá, como aconteceu no Brasil, os criminosos da ditadura não são levados a julgamento na Justiça Comum, porque uma lei os protege, ao contrário do que ocorreu na Argentina e no Chile.
(A foto de Alessandro Maradei, que o blog compartilha, está na capa do jornal La Diaria).