PAREM DE ATIRAR PEDRA NO SUPREMO

Parte relevante das esquerdas brasileiras gostaria de terceirizar os esforços para a reconquista de democracia. Livrar-se de Bolsonaro, segundo essa esquerda mais lerda, é coisa para as instituições.

É dessa esquerda o ataque mais depreciativo ao pronunciamento de Luiz Fux ontem, em resposta a Bolsonaro, porque o ministro deveria ter sido mais contundente. Não são poucas as análises nessa linha de que Fux ficou pela metade do caminho.

O ministro respondeu às ameaças e aos ataques de Bolsonaro, disse que o sujeito cometerá crime de responsabilidade se desprezar ordens da Justiça, chamou Bolsonaro de pregador de messianismos, assegurou que ninguém ameaça ou fecha o STF e mandou o homem trabalhar para resolver os problemas do país.

Mas tem gente dizendo que Fux deveria ter ido mais adiante. Mais adiante como e para onde? Uma das sugestões, dadas em tom categórico, é a de que o STF deveria encarar Bolsonaro pelo crime de ameaçar o não cumprimento de decisões do ministro Alexandre de Moraes.

A esquerda que terceiriza quase tudo acha que Bolsonaro deveria ser enquadrado já pelo crime de responsabilidade como ameaçador.

Além do inquérito que já tramita no Supremo sobre fake news e atos pró-golpe, teríamos mais esse? Não. O Congresso, e não o STF, é quem delibera sobre crime de responsabilidade. A esquerda queria que Fux atravessasse a praça e fosse prender Bolsonaro?

A direita vai para as ruas com uma força que a esquerda não tem mais desde os anos 80. As esquerdas mal conseguem mobilizar seu povo para caminhadas de mês em mês. A última grande caminhada foi no dia 24 de julho.

A próxima ninguém sabe quando será, alguns defendem que seja de braços com o MBL.

E o que essa esquerda espera, enquanto caminha de forma intermitente? Que as instituições cumpram integralmente suas funções num ambiente conturbado, mas sob o controle da extrema direita.

As instituições não estão dissociadas dos humores, das reações e das manifestações de indignação consequentes da sociedade. Não só as indignações virtuais.

Não há como cobrar das instituições o que a população não expressa. É o sentimento da população que dá suporte às instituições em momentos graves.

Por que as instituições enfrentariam Bolsonaro com mais radicalidade, se a população está resignada diante do terror disseminado pelo bolsonarismo que conspira contra a ciência, as vacinas, a economia e o emprego e aprofunda todas as misérias?

Alexandre de Moraes é hoje a mais valente autoridade da República. Enfrenta Bolsonaro, os filhos de Bolsonaro e os milicianos que protegem e têm a proteção dos Bolsonaros para produzir fake news e organizar atos pró-golpe.

Mas tem gente que ainda acha que Alexandre de Moraes é um tucano a serviço da candidatura de João Doria. Que trabalha para uma facção criminosa (é a bobagem mais repetida). E até que faz seu show para se habilitar a ser o candidato da terceira via.

Ora, Moraes será o presidente do TSE a partir de agosto e estará com ele o comando do processo eleitoral. Como e quando o ministro poderia virar candidato? É outra bobagem.

Essa esquerda das conspirações tem que prestar atenção no que disse ontem o ex-deputado José Genoíno em entrevista à TV 247.
Genoíno afirmou que manifestos e discursos, como o pronunciamento de Fux, são importantes.

Mas do que precisamos mesmo é de povo na rua, disse o líder petista que sabe tudo de política e que por isso mesmo sabe que, sem povo na rua, não há instituição que salve a democracia sozinha em situações de exceção.

As instituições funcionam bem, sem sobressaltos, em situações de normalidade. A situação brasileira não é normal desde agosto de 2016, quando Dilma Rousseff foi golpeada.

Não há como exigir mais do Supremo, se os brasileiros são vacilantes na resistência ao fascismo.

Alguns insistem que o STF foi conivente com a Lava-Jato. Mas não dizem que o mesmo STF foi que apontou e revisou os erros do lavajatismo. Que Lula só se tornou elegível por decisão corajosa da maioria do Supremo.

O STF da Lava-Jato parece não existir mais. Mas as esquerdas querem continuar cobrando a mesma conta indefinidamente.

Vamos prestar atenção nos movimentos do STF em relação a Bolsonaro e ao avanço do fascismo, para que o desejo permanente de revanche com o Judiciário não nos condene às armadilhas políticas do ressentimento ingênuo.

O Supremo é hoje a maior trincheira contra Bolsonaro. Não são os partidos. Nem os sindicatos, a Igreja, as organizações civis e muito menos as entidades estudantis, que não agem politicamente e com vigor no Brasil há muito tempo.

Parem de atirar pedra no Supremo cercado pelos caminhoneiros empregados dos poderosos grupos do agropop, porque é tudo que Bolsonaro deseja.

Esse é o jogo que serve à extrema direita. Fragilizar o Judiciário, porque a maioria do Congresso foi comprada e a população está em casa vendo Netflix e criticando o Supremo.

2 thoughts on “PAREM DE ATIRAR PEDRA NO SUPREMO

  1. Caro Moisés.
    Antes dos golpes de 2016 e 2018, eu até ficaria impressionado e COMOVIDO com o discurso do Fux. Agora nāo.
    Perdi às minhas ilusões.
    Assisto agora sem surpresa nenhuma o PSOL e o PC do B aceitarem o convite do MBL (controlado pelo Dória) para participarem das manifestações do 12 de Setembro.
    Continuam lutando só por cargos. Estamos mal.
    Perdi completamente às minhas ilusões com esse tipo de esquerda que só luta por cargos. Querem mudar às suas vidas e só pensam em eleições. estāo se lixando para o eleitor.
    Como eu disse eu perdi às minhas ilusões. Ilusões perdidas a gente nāo recupera nunca mais.

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