POR QUE A ÔMICRON MATA TANTO

O Globo tem hoje, assinada por Constança Tatsch, uma das melhores reportagens com repostas para a grande pergunta da humanidade: por que a Ômicron, se é mais fraca do que outras variantes, continua matando tanto?

Vou publicar um resumo, com o acréscimo de informações de outros veículos, porque essa reportagem deveria estar disponível a todos, e não só aos assinantes.

As respostas ao drama criado pela Ômicron não são tão simples. Passam pelo aumento nunca visto antes das taxas de contágio e levam em conta as taxas de adesão à vacinação, os cuidados com uso de máscara e outras medidas, a estrutura de saúde, a idade média das populações e o ritmo e o momento da vacinação.

São fatores que se combinam para matar mais ou menos. Há dados muitos interessantes. Primeiro: há uma conexão direta e inquestionável entre aumento de mortes e baixa vacinação. Essa deveria ser uma questão encerrada.

Uma vacinação com boa disponibilidade de imunizantes e alta adesão é a receita de sucesso do Chile e da Alemanha, que conseguiram manter baixas taxas de mortalidade pela Ômicron.

Os EUA seguem caminho oposto. Apesar da abundante oferta de vacinas, só 63% foram vacinados com as duas doses, porque existe uma enorme desigualdade na adesão à imunização.

No Estado do Alabama, por exemplo, apenas 49% estão totalmente vacinados. Há condados negacionistas no Estado de Montana em que só 17% se vacinaram. Além disso, 43% dos americanos com 65 anos ou mais não receberam dose de reforço.

Muitos governos, por indiferença e/ou por sabotagem, como é o caso do Brasil, diziam que ‘não está acontecendo nada’. Quando começa a acontecer, já é tarde.

A Covid era uma doença mais grave em março de 2020, mas tinha menos gente contaminada. Se há uma explosão de casos, mesmo o risco sendo dez vezes menor, se tiver dez vezes mais gente contaminada uma coisa equilibra a outra.

É o que acontece hoje no Brasil, com o número de mortes voltando ao patamar de mil por dia. Mas só vacinar resolve? Não resolve, se outras medidas forem desprezadas.

A população vacinada no Japão é de 79% e a da Argentina é de 76%. Os vizinhos deram mais doses de reforço: a cada 100 pessoas, 29 argentinos receberam a terceira dose, contra apenas quatro japoneses.

Ainda assim, o Japão conta 0,3 mortes por milhão contra 5,6 da Argentina. Uma das hipóteses para justificar essa diferença está na adesão às medidas de proteção.

No Japão, o uso de máscara é um velho costume, espontaneamente. A campanha negacionista na Argentina, principalmente contra o uso de máscara, é talvez mais intensa até do que no Brasil.

O resumo: o argentino se vacina, mas acha que não precisa se cuidar, porque a extrema direita macrista prega contra os cuidados básicos. E o governo acaba cedendo às pressões desses grupos da direita agora ligados à extrema direita.,

Tanto que a Argentina liberou o uso de máscara em ambientes abertos em outubro e não voltou atrás na decisão nem quando o número de casos explodiu.

A Ômicron chegou ao país no meio das férias de verão, com muitas viagens, reuniões, além de praias e festas lotadas. O governo cedeu ao negacionismo.

Mas uma pergunta fica dependurada lá atrás: por que o japonês, tão racional e cuidadoso com prevenção e uso de máscara, aderiu tão pouco à dose de reforço? São os paradoxos expostos pela pandemia. Não há uma resposta categórica.

Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, destaca ainda outro fator que faz a diferença na comparação entre os países: o timing da vacinação, ou seja, o momento e o ritmo da imunização:

— Descobrimos ao longo da pandemia que a imunidade, tanto a gerada pela infecção quanto pela vacina, têm prazo de validade. Se você olhar um país que vacinou há mais tempo e está mal na dose de reforço, vai ter mortalidade alta. Se pegar um que vacinou mais recentemente, a mortalidade vai ser mais baixa porque a população está com a imunidade lá em cima.

Há dados incontestáveis, que o negacionismo continua tantando contestar, relacionados ao uso da máscara e à vacinação. Esse dado a seguir é sobre a dose de reforço para os britânicos, que se mostrou crucial no combate à nova variante.

Levantamento mostrou que seis meses após a segunda dose, a proteção contra a morte causada pela Ômicron foi de cerca de 60% nas pessoas com mais de 50 anos na Inglaterra. Após o reforço, passou para 95%.

Então, a pergunta feita hoje sobre o que leva a tantas mortes, apesar de essa ser uma variante mais fraca, tem uma explicação elementar: o contágio é muitas vezes maior. E somam-se a isso os muitos outros fatores já citados.

A pergunta que deve ser feita é outra: o que seria do mundo hoje, com o contágio avassalador da Ômicron, se não existissem as vacinas e as pessoas tivessem acreditado na imunização de rebanho defendida pelos criminosos da pandemia?

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