Por que o JB dispensou Drummond

Os jornais registram hoje os 30 anos da morte de Carlos Drummond de Andrade. Cada vez que falam do poeta eu me lembro de um episódio de 1984 que se repete ainda mais hoje, quando os jornais se livram de colaboradores de prestígio como se estivessem se livrando de fardos.

Pois em 1984, para consolo dos que são mandados embora hoje sem muita explicação, o Jornal do Brasil livrou-se do cronista Drummond. Me lembro da notícia na Ilustrada da Folha de S. Paulo, enxergo o texto num canto inferior de página e me lembro mais ainda do argumento do JB.

Li espantado que o jornal dispensava Drummond porque o índice de leitura de sua coluna havia caído muito. Era o que a Folha dizia. Drummond escreveu no Caderno B do JB de 1969 a 1984, três vezes por semana.

Um dia, 15 anos depois, alguém decidiu que não precisavam mais dele e que o leitor não sentiria sua falta. O leitor quase não reclama. Em algum momento, ele simplesmente desiste.

Podem perguntar: mas como mandam Drummond embora, e com o argumento do que hoje chamariam de audiência baixa? Pois mandaram. Sim, hoje os jornais também falam de audiência, como se fossem rádios, até porque muitos estão mesmo virando rádios escritas.

Drummond morreu três anos depois de ter sido dispensado pelo JB. Esse é um consolo a quem é largado de repente pelas redações da vida. Um dia, o JB, já caindo aos pedaços, livrou-se de Drummond.

Quem quiser, pode até dizer: me mandaram embora como se eu fosse um Drummond qualquer.

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