POR QUE TER OU NÃO TER ALCKMIN DE VICE DE LULA

Publico hoje a análise de Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), sobre a possibilidade de Geraldo Alckmin ser o vice de Lula.
Além da opinião do ex-ministro, compartilho mais dois comentários, também de professores:

Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política da USP, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e ex-ministro da Educação (governo Dilma, 2015); autor de ‘A Pátria Educadora em Colapso’ (ed. Três Estrelas):
“Não me parece garantida a eleição, nem a posse, nem a governabilidade de Lula. Ele é o franco favorito, sim, mas há e haverá muitas pedras no caminho. Por isso mesmo, a aliança que leve à vitória deve ser a mais ampla possível. A parceria com Alckmin não se mede em número de votos, que podem ser poucos, mas no que ela significa em termos de uma grande aliança de democratas contra a extrema-direita. O importante é o símbolo. O Brasil rachou em três: o campo progressista, a extrema-direita e a direita não fascista. O primeiro e o último aprovam os direitos humanos básicos. Os dois últimos querem uma economia neoliberal. Ganha a eleição quem juntar dois desses três atores. E não só a eleição, a governabilidade. Há a eleição e depois mais quatro anos de governo. É essencial trazer de volta a direita não fascista ao campo democrático. É o que justifica a aliança com Alckmin. A aliança só não seria necessária se Lula ganhasse estrondosamente, com Câmara, Senado e governadores – o que não é nada garantido”.

Marilia Verissimo Veronese, docente e pesquisadora na área de ciências sociais e saúde:
“Se tem um problema difícil, entrego pro Romero; ele resolve”. Essa fala é atribuída a Lula, quando era presidente. Quem me contou foi uma deputada federal. Não posso citar nomes e ela não foi deputada pelo RS, mas sim por um estado do norte do país. Bem, essa mesma deputada, que se dizia fiel a Jucá, votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, por ordem do “Romero-com-Supremo-com-tudo”. Aquele que resolvia tretas difíceis com o legislativo, na época dos governos Lula, sendo seu aliado. Mas as alianças são feitas, desfeitas e refeitas, a gente sabe. O ex-parlamentar paulista João Paulo Rillo, que foi PT e PSOL, afirmava ao Brasil de Fato há alguns anos*: “São dezenas de casos com indícios e provas de corrupção. Infelizmente [os tucanos] são blindados na Assembleia Legislativa e por partes do Ministério Público.” Naquela época, para o PT, os tucanos seriam “os vendilhões da pátria”, que promoviam desmontes em áreas essenciais: “É a aplicação do estado mínimo ao extremo”. Poderia um ex-tucano, agora no PSB, ajudar a recuperar o Estado brasileiro, já que supostamente passou anos tentando desmontá-lo? Fará o papel de Temer, golpeando aliados de momento, no futuro? É aposta de risco, mas parece que teremos que engolir o “sapo-católico-rumores-eternos-de-Opus-Dei”, parafraseando o velho Brizola. Até porque Lula é a única possibilidade de varrer o fascismo miliciano criminoso do executivo federal, então por ora aceitaremos o que vier, seja o que for. Agora, por favor, não tentem torcer e retorcer os fatos para pintar Geraldo como centro-democrático, como um moderado, porque sabemos o que ele fez e o que vocês disseram nos verões passados. Aceito, com reservas, a realidade como ela é… e a nossa tem sido “o menos pior”, ou “o possível”, nos últimos anos”.

Eliézer dos Santos Oliveira, professor de Filosofia do IFSul (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense), campus de Santana do Livramento:
“Lula e Alckmin: quem mudou? A realidade! A esquerda não deseja Alckmin, mas entre o desejo e a sua realização, há a realidade. E a realidade mudou e se encarregou de promover o improvável, a provável aliança Lula e Alckmin. A destruição do país promovida pela pandemia e pelo pandemônio do Bolsonaro agravou os históricos problemas nacionais e a própria democracia corre riscos. Essa triste realidade exige que Bolsonaro seja derrotado e o país reconstruído. Dentre os pré-candidatos à Presidência Lula é o mais preparado! Porém nem ele, nem o PT e nem a esquerda conseguirão concretizar essa tarefa sozinhos. A ampliação do leque de alianças entre a esquerda e o centro democrático faz-se necessária para ganhar a eleição e governar. A realidade fez Lula ver em Alckmin o vice capaz de atrair votos da centro-direita, diminuir a intensidade do anti-petismo e neutralizar o crescimento da já esburacada terceira via; além de ser alguém capaz de facilitar a governabilidade, mediando as relações do governo com o mercado, os grandes empresários e os parlamentares mais distantes da esquerda. A esquerda escaldada teme um golpe nos moldes de Temer. No entanto Lula tem mais jogo de cintura político do que Dilma – ainda que os golpes sempre sejam possíveis, mesmo que o vice seja de esquerda, quem retira um pode retirar dois! Outro temor diz respeito ao passado tucano e neoliberal de Alckmin. O ideal seria uma autocrítica pública, que provavelmente não acontecerá, mas que deverá ser demonstrada na prática, para além da sua saída oficial do PSDB e a filiação num partido de centro-esquerda. De outro lado a confiança que a militância de esquerda deposita em Lula a tranquiliza, reina a certeza de que Alckmin será, de fato, e verdadeiramente, o vice de Lula e não o contrário. Podemos desejar mais, muito mais, entretanto a política se faz no mundo concreto, de acordo com as possibilidades reais que nos são dadas pelo processo histórico, e a realidade atual parece não permitir um governo que esteja mais à esquerda do que o lulismo já conseguiu ser. Entretanto, retomar o lulismo é, nos dias de hoje, a maior esperança daqueles que sofrem as consequências da necropolítica bolsonarista”.

2 thoughts on “POR QUE TER OU NÃO TER ALCKMIN DE VICE DE LULA

  1. Análises esclarecedoras, porém as dúvidas continuam. De qualquer forma, ser vice-presidente do Brasil é um cargo que tem muitas vantagens: não pode ser demitid@ e, ainda por cima, pode flertar com golpistas. E, se não quiser, nem precisa trabalhar, como vemos atualmente.

  2. Salvo engano, o Lula nunca foi de se apoiar no povo na rua. Então não tem surpresa, é governar com o congresso. Este congresso, que vai ser eleito e reeleito com rios de dinheiro público e semi-público.

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