Quanto tempo dura o golpe?

corvos

Um governo em que o chanceler vai a Paris, para reatar relações com a terra de Alexandre Dumas, como se ia no século 19, enquanto aqui o ministro da Educação conversa com Alexandre Frota, pode durar quanto tempo? Reúna a família, inclusive aquele primo insuportável que defende o Bolsonaro aos gritos, e faça uma enquete.

Quanto tempo dura esse o governo? Por quanto tempo Moreira Franco, Cunha, Padilha, Jucá (que continua operando na volta) e os coronéis da interinidade continuarão brincando de governantes? Por quanto tempo o Senado manterá a dúvida que se espraia sobre a decisão de afastar Dilma da Presidência para sempre?

Sabe-se que em 1964 setores importantes do empresariado e da política estabeleceram metas para que os militares dessem sua tarefa por encerrada. Naquele tempo, os que aderiram ao golpe temiam a Guerra Fria, a reforma agrária, todas as reformas anunciadas por Jango e o diabo do comunismo. Temiam até os vizinhos.

Como em qualquer golpe, havia os que aderiram no embalo, a maioria que não sabia direito o que estava acontecendo, e os que disseminavam o medo, do centro do poder aos vilarejos, para que a adesão crescesse e a ditadura tomasse forma.

Os militares gostaram e foram ficando. Cassaram, perseguiram, censuraram, torturaram, até que um dia parte da imprensa, dos políticos e dos empresários disse: agora, chega. Foi um gesto sincero de intolerância com o que veio depois do golpe.

Há quem considere a reação dos indignados, em contraponto aos perseguidos e exilados, como a previsível dissidência dos oportunistas. E acabe empurrando todos os desistentes para o mesmo grupo. Não foi bem assim.

Entre os grandes dissidentes, nem todos aceitos com naturalidade pelos que resistiram desde o começo, surgiram então Magalhães Pinto, Teotônio Vilela, Severo Gomes, cada um com seu discurso e seus seguidores. O senador alagoano Teotônio Vilela foi o mais vigoroso e o mais valente de todos eles.

Quem morou no interior sabe que nos fundões do Brasil arenistas municipais também passaram a rejeitar o regime. O jornalismo teve participação decisiva (pela reação das redações, e não necessariamente dos donos dos jornais) na formulação do discurso de inconformidade com o prolongamento da ditadura.

E agora? Quem serão os seguidores de Teotônio no golpe do século 21, se é que eles existem, em outras circunstâncias, com outros personagens, num ambiente de precarização da política e das instituições. Quem irá ajudar a corroer o golpe por dentro, num cenário em que o país se constrange diante de um Cunha, um Maranhão e de um Gilmar Mendes?

Quanto tempo dura um governo sustentado pelo que a política tem de mais medíocre? Quanto tempo sobrevive essa interinidade contestada por estudantes, intelectuais, mulheres, operários, artistas?

Não há ninguém do porte de um Teotônio dentro do golpe. Mas alguns deles poderiam pelo menos fingir que são parecidos com ele.

17 thoughts on “Quanto tempo dura o golpe?

  1. Saúdo o amigo pelo novo espaço , que afinal JÁ tardava. O momento é riquíssimo de fatos e notícias arrepiantes na política e na economia. Sendo assim seria uma lástima ficarmos órfãos da tua pena tão aguçada e inteligente. Ainda hoje, AO principiar o fogo na lareira neste outono ” héliobicudo” , peguei uma ZH de julho de 2015 , onde tua saudosa coluna , versando sobre PESQUISAS já vaticinava o golpe. Nunca pensou em abrir uma consultoria? Abração!

  2. Eu pensava que uma única geração não poderia viver dois golpes. Daí lembro que houve uma geração que viveu duas guerras mundiais. Ou seja, é possível. as memórias não são transferíveis e, quando se vê, as coisas horríveis se repetem. Mas vamos torcer que seja breve, temer, o breve.

    parabéns pelo texto!

  3. SALVE, QUERIDO AMIGO MOISES! Deus te escute que esta cafajestada caia, se esvaia, pelo esgoto, que é de onde vieram, como ratos que sao. beijos!

  4. SALVE, QUERIDO AMIGO MOISES! Deus te escute que esta cafajestada caia, se esvaia, pelo esgoto, que é de onde vieram, como ratos que sao. beijos!

  5. muito bom te ver por aquí, saudoso moiséis. fora do brasil há tempos, tenho te procurado sem sucesso. que é o que desejo prá vc. neste blog. Abraço.

  6. Caro moisés, sentimos muita a tua falta aqui em casa. que bom que estás de volta. vida longa ao teu blog! E NÃO SE ATREVA A SUMIR NOVAMENTE!

  7. Parabens pelo texto. Agora pergunto-lhe: achas mesmo que esse governo interino é pior que o anterior? Achas mesmo que o zé “todo poderOso” dirceu é diferente do jucá? Achas mesmo que o tofoli é diferente do gilmar mendes? Achas mesmo que dilma é diferente de temer? A proposito, quando votaste em dilma nÃo sabias que votava em temer?

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