TANCREDO, BOLSONARO E OS SEGREDOS

Desconfiar dos resultados negativos dos testes de Bolsonaro é duvidar não só de Bolsonaro, mas das pessoas ao redor dele e principalmente dos médicos da presidência da República.

Alguém pode dizer que essas dúvidas são desrespeitosas com profissionais da saúde competentes e sérios. Devem ser. Mas quem fomentou as desconfianças foi o próprio Bolsonaro.

Um presidente não tem o direito de esconder o que se passa com a sua saúde e muito menos ajudar na propagação de dúvidas.

Tudo o que for fundamental, e que não implique na revelação de intimidades, deve ser divulgado. É do interesse de todos saber o que acontece com o presidente.

Se há dúvidas, por mais absurdas que pareçam, um presidente não pode se negar a tornar público os resultados dos exames, ou tudo o que se propala em nome da transparência não tem valor algum.

E ser transparente é levar ao público o que o exame diz, divulgar o exame, expor, mostrar. Como Trump fez. Trump mostrou o exame.

Por que esconder um exame com uma informação simples, objetiva, que diz apenas se o teste deu positivo ou negativo?

Podem até dizer, como desculpa, que nessas circunstâncias, em meio a uma pandemia, a saúde do presidente é segredo de Estado. Não é.

Esse pretexto da confidencialidade é furado e mais ainda quando o personagem é Bolsonaro.

Vamos admitir, com a sinceridade dos ofendidos pelas omissões e pelos desatinos de Bolsonaro: que falta faria Bolsonaro, se tivesse de entrar em confinamento, como ‘líder’ da estratégia de guerra contra o coronavírus? Nenhuma. Fora da guerra, Bolsonaro pelo menos não continuaria atrapalhando.

O que se sabe de oficial, pela voz de técnicos (e não de políticos ou do próprio Bolsonaro), sobre os resultados dos exames é um relatório obtido pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha.

O documento é assinado por Marcelo Zeitone, assistente médico da Presidência da República, e pelo também médico Guilherme Guimarães Wimmer, coordenador de saúde da Presidência da República.

Os dois asseguram que os exames dos dias 12 e 17 deram negativo e que Bolsonaro está sendo monitorado. Mas nada revelam sobre os laudos, porque, segundo o diretor do Hospital das Forças Armadas em Brasília, general Rui Yutaka Matsuda, os documentos são pessoais. Bolsonaro não poderia ser orientado pelos próprios médicos a divulgá-los?

Médicos, em muitas outras circunstâncias e em ambientes políticos conturbados, contribuíram mais para esconder do que para esclarecer.

Quem não viveu aqueles tempos e quiser se informar, que procure no Google o que os médicos diziam em 1985 sobre a saúde de Tancredo Neves poucos dias antes da sua morte.

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