UMA GUERRA DE FACÇÕES

As instituições da estrutura de justiça do Brasil chegaram ao momento em que nem as aparências interessam mais.

Supremo e Ministério Público Federal, divididos e atordoados pelos delitos do golpismo e do lavajatismo, brigam agora para saber quem tem mais poder para exibir ou mais podres para esconder.

A mais alta Corte tenta enfrentar a turma de procuradores que a desafia há muito tempo. Sabe-se agora, pelas mensagens vazadas do esquema da Lava-Jato, que o STF investiga gente que não só o ofendeu, mas que pretendia investigar clandestinamente alguns de seus membros.

O último movimento é o de Raquel Dodge, a chefe dos rapazes de Curitiba, que passou a tratar o Supremo como um “tribunal de exceção”. Chegamos ao momento em que ao MP Federal e ao Judiciário já não basta a farsa do combate aos corruptos para perseguir Lula e as esquerdas.

Agora, MP e Judiciário, que atuavam em conluio ou pelo menos se toleravam, duelam entre si porque um desafiou o poder e as imundícies do outro.

O MP de Raquel Dodge tratou o STF, durante toda a Lava-Jato, como um aliado resignado com sua posição de observador do que acontecia em Curitiba.

O Supremo nunca questionou as anomalias da força-tarefa que deveria ser comandada por Deltan Dallagnol e era na verdade liderada por Sergio Moro.

O único ministro que tentou impor alguma ordem e hierarquia ao grupo de Curitiba foi o relator da Lava-Jato, Teori Zavascki, que está morto.

Dos vivos, todos disseram amém a Sergio Moro e ao MP, como se o juiz de primeira instância fosse um deles. O que se vê hoje é o Supremo tentando enquadrar os moços de Raquel Dodge como disseminadores de inverdades contra a Corte, e a procuradora defendendo ferozmente seus rapazes.

É uma briga corporativa, muito mais do que a defesa das instituições. Raquel é chefe de um MP vilipendiado por seus próprios integrantes. E Dias Toffoli, que determinou a abertura do inquérito para investigar os procuradores de Dodge, é líder de um Supremo desmoralizado desde antes do golpe de agosto de 2016.

Não há nada de elevado nesse duelo. Ministério Público e Supremo são cúmplices em situação de conflito. O desfecho da briga poderá fortalecer um ou outro, mas o Brasil dominado pelo lavajatismo e pelo bolsonarismo não irá ganhar nada com isso.

Essa não é uma guerra do sistema de justiça, mas de membros de facções do MP e do Judiciário que apenas estão em desacordo sobre o andamento do projeto que golpeou Dilma e encarcerou Lula. Não procurem mocinhos nesse entrevero.

Como decretou certa vez, em manchete, o jornal argentino Olé sobre o jogo do Brasil contra a Inglaterra numa Copa do Mundo: que percam os dois.

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