Vídeo da Marinha prova o que é ‘brain rot’
A expressão do ano, segundo o dicionário Oxford, é “brain rot”, que está sendo traduzida pelo que é: podridão cerebral. É uma alusão aos danos mentais produzidos por conteúdos da internet considerados rasos, simplificadores, medíocres ou apenas podres.
Querem um exemplo de agora, disponível no mesmo dia em que a expressão escolhida pela universidade foi anunciada? Vejam o vídeo da Marinha divulgado com o pretexto de que é parte das festividades do Dia do Marinheiro, que só acontecerão em 13 de dezembro.
É uma porcaria, com boas contribuições para que os cérebros assimiladores de bobagens fiquem ainda mais apodrecidos. Como quase todos os vídeos produzidos pela extrema direita. Como os ‘conteúdos’ criados pelos que reinventam o país paralelo do fascismo.
Simplificam uma ideia que não exige grande capacidade de reflexão e passam a “verdade” do momento, não apenas rasa, mas com componentes de mentira e de ofensa. É o caso do vídeo da Marinha.
O filme mostra militares da força em simulações de combate, enquanto civis surfam, viajam, tomam banho de mar, dançam, praticam ioga, festejam aniversário. Os civis são o alvo.
O resumo simplificador é este: enquanto vocês se divertem, nós estamos na batalha. Mas o vídeo é um game. A Marinha brasileira não se envolve em operações militares reais desde a Segunda Guerra.
E o final do vídeo é um deboche, quando uma militar diz, referindo-se a tudo que foi visto: “Privilégio? Vem pra Marinha”. É uma simplificação grosseira.
Está aí o exemplo de conteúdo que atrofia pensamentos. É mais uma produção destinada aos cérebros que tudo aceitam, desta vez com o carimbo institucional do poder fardado.
É lixo usado como arma virtual contra possíveis cortes em privilégios dos militares de todas as forças, como parte do pacote que o governo enviará ao Congresso.
A Marinha produziu um vídeo sobre realidade paralela, com pessoas que apenas se divertem, em contraste com soldados que se matam pelo Brasil. Vamos repetir: é mentira. O brasileiro trabalha muito.
Não pode ser aceita a desculpa de que a Marinha quis dizer que está sempre ativa para que os civis possam levar a vida. O que a Marinha está dizendo é que vai à luta (mas que luta?), enquanto o brasileiro vagabundeia. E se for o inverso? Por que o vídeo não mostra civis trabalhando?
A Marinha, para quem já se esqueceu, teve o único comando das Forças Armadas alinhado com Bolsonaro até o fim da tentativa de golpe depois da eleição de Lula, enquanto Exército e Aeronáutica saltavam fora.
A Marinha, mesmo sob novo comando, continua alinhada à extrema direita bolsonarista? Continua desafiando Lula com vídeos que apodrecem cérebros? Colocando um ‘sósia’ de Fernando Haddad com capacete e rastejando?
O vídeo é, para simplificar e para que seja entendido pela extrema direita, uma merda de um minuto e 16 segundos. O efeito é conhecido. Brain rot é o cérebro atrofiado por consumir merda virtual.
O militar do vídeo, nao leu o script todo, esqueceu de dizer
Que indo para a marinha
Aprenderiamos a pintar meio-fios
Em alto-mar.
Cambada de mamadores do
Dinheiro público.
A última guerra que o Brasil enfrentou foi uma covardia chamada triplice aliança contra o paraguai, defendendo os interesses ingleses na américa. É de longe a maior despesa inútil bancada pelos impostos dos contribuintes.
Esse vídeo , Parafraseando o saudoso Stanislaw Ponte Preta, “é de fazer psiquiatra se masturbar de alegria”.
O conteúdo é de um primarismo de quinta série. Porém, segundo dizem, foi aprovado pelo alto-comando. E isso é o que há de mais preocupante.
No vídeo, enquanto o povo se diverte, os militares se estropiam. Os marujos, pelo que o vídeo sugere, nem podem se dar ao luxo de ir à praia, dançar, beber uns goles, se divertir. Ademais, há uma crueldade naturalizada. Os que aparecem “ralando” são os praças, a marujada, submetidos a uma rígida disciplina, treinamentos extenuantes, por vezes abusivos e beirando o sadismo. Se esse vídeo for usado para estimular o alistamento militar na marinha, vai ser um fracasso…
Os oficiais da marinha não aceitam perder algumas das benesses que são negadas à população civil. E usam a marujada como bucha de canhão para defendê-las, aqueles que, de fato, vivem um cotidiano duro.
Um dos maiores estudiosos da vida militar no Brasil (Manuel Domingos Neto) ressalta um aspecto importante entre os militares: eles, via de regra, formam uma comunidade fechada, só se relacionam entre eles mesmos, com pouca ou nenhuma integração social com os civis. Vivem e constroem seus valores sociais num mundo paralelo, dissociado da realidade de seu entorno.
Se o Brasil quiser fugir de seu destino bananeiro, tem que submeter a formação militar ao controle civil. E isso não se dará apenas com uma mudança curricular nas academias militares. O buraco é bem mais embaixo. Sem isso, jamais seremos uma democracia consolidada.
Um celebrado cientista político norte-americano, Robert Dahl, formulou alguns critérios para avaliar o quanto um país pode ser considerado como uma democracia (que ele chamava de Poliarquia). Porém, para aplicar os seus critérios, temos que ter algumas premissas (ela chama de axiomas). Em resumo, essas premissas dizem que o custo politico de quebrar as regras do jogo deve ser elevado, para que nenhuma parte opte por rompê-las. Outra premissa que o autor ressalta é que os militares devem ser “controlados”.
Pois bem: no Brasil sequer superamos estas premissas básicas. E ainda tem autoridades, cheias de pompa, que celebram a maturidade a resiliência das nossas instituições. Tão patéticos quanto o vídeo da marinha.
Ainda há um longo caminho para escaparmos da sina bananeira. Estamos diante de uma chance de ouro para enquadrar o poder militar. Sabe-se lá quando teremos outra.
https://bananasnews.noblogs.org/
Perfeito!
1 – É CNPJ mesmo, não CPF, viu, sr. Múcio?
2 – Esse vídeo é uma afronta ao povo e ao Governo brasileiros!
Em resumo: urge uma reforma total nas Forças Armadas!