AS DOENÇAS
No intervalo de uma das reuniões na ONU, Moreira Franco bateu na porta da suíte onde estavam o jaburu-da-mala e seus assessores. Moreira Franco pediu licença e entrou:
– Cumpre informar que o juiz não autorizou o tratamento para a cura do Padilha.
– Podemos falar disso depois? – indagou e ordenou o jaburu, alegando que precisava preparar uma proposta de paz entre Trump e o gordinho da Coreia e que esse plano seria decisivo para evitar a guerra.
Moreira Franco insistiu:
– Padilha deve ser curado logo.
– O que ele tem é saudade do Geddel – disse o jaburu.
Moreira Franco argumentou:
– E saudade é doença. Mas recorremos a um juiz de Brasília, o mesmo que disse que os gays são doentes, e ele disse que Padilha deve lutar para esquecer o Geddel. Ele não reconhece um homem saudoso como doente. Que Padilha é um homem sadio.
– E o Gilmar?
– Ainda não recorremos ao Gilmar.
– Pois faça-o. O Gilmar decide o que é doença, do resfriado às pestes medievais. Se for preciso, Gilmar prende as doenças e solta as doenças – disse o jaburu.
Quando Moreira Franco estava deixando a suíte, chegou Padilha.
– Saudade é doença, sim – disse Padilha.
– Mas o Geddel sairá logo – falou o jaburu, com a voz baixa, aquela voz em ponto morto que parece que não é dele, em tom de quem consola.
Padilha jogou-se na cama presidencial, agarrou-se ao travesseiro e começou a chorar.
– Mas e as malas? E as malas?
Padilha dava socos no travesseiro. O jaburu chamou Moreira Franco e fez um sinal com a mãozinha:
– Psss… Deixa ele quieto.
E virou-se para o assessor e continuou ditando, fazendo círculos com o dedo indicador no ar:
“Como eu estava dizendo, todavia, o Brasil oferece-se, no entanto, como potência mundial, a tratar a doença que acomete o mundo e que pode de inopino afastar-nos dos trilhos da paz, da bonanza…(com z mesmo)…”