A CIDADE COMO NEGÓCIO
A jornalista Érica Fraga publicou esses dias um belo texto na Folha em que conta que pegou os três filhos pequenos e saiu a andar de metrô com a turma em São Paulo. Andaram longe e se divertiram, porque os filhos dela não costumam andar de trem.
Érica pretendia apresentar os filhos a um mundo que eles pouco conhecem, de diferenças, de gente estranha, de trabalhadores, pobres, negros, velhos, muitas vezes de gente cansada de ir e vir de metrô.
É uma convivência provisória, que talvez nem venha a ser constante, mas é uma experiência que todos deveriam ter com filhos e netos. Sair dos carros e dos lotações e andar de ônibus com suas crianças.
Para que não aconteça com eles o que acontece com determinados gestores que assumem a administração de cidades onde nunca usaram transporte coletivo, nunca conversaram com alguém dentro de um ônibus, nunca experimentaram o empurra-e-aperta de um Restingão lotado às oito da noite.
As cidades desprezadas por seus gestores, enquanto a miséria se espalha pelas ruas, sem nenhuma ação pública que lhes dê suporte, são quase um experimento para pessoas sem nenhuma vocação para o enfrentamento de dramas e sonhos coletivos.
São gestores preocupados em articular a venda de patrimônios, como se a tarefa que assumiram fosse a de se livrar de bens que não conseguem administrar, ou que não querem mesmo, ou que seus amigos querem.
O Brasil está cheio de gestores que pensam as cidades muito mais como oportunidades de negócio do que como lugar de todos. O que aconteceu com o Cais Mauá é um exemplo. As cidades estão sendo leiloadas.
exatamente. e estes espaços estão sendo discutidos, planejados por gente que nunca os utilizou. e, as supostas modernidades e belezas que querem implantar, não será para o deleite e proveito destes velhos usuários.
Tristeza.