A FOTO PROIBIDA

Uma cena dos dias tensos que já vivemos e anunciadora dos dias tenebrosos que poderemos viver. Virgínia votou numa sessão de Belém Novo, onde cresceu e morou durante anos.
Levou, como a maioria dos democratas, um livro na bolsa para fazer a foto com uma obra que admira.
Quando começou a tirar o livro (A Mulher no Terceiro Milênio, de Rose Marie Muraro), o presidente da mesa me desautorizou a fazer a foto. Eu estava a uns três metros da urna. Não podia.
Não pode, não pode, não pode. Eu não convenci o homem de que estava longe da urna e de que pegaria apenas a frente da cabine como cenário do ambiente.
Cheguei a dizer que tinha o direito de fazer o registro. O homem disse que não. E ameaçou: vou tomar providências.
Antes que tomasse, saí da sala. Eu estava com um adesivo de Haddad no peito. Virgínia também.
Recuei, porque nunca se sabe quais providências serão tomadas a partir de agora, seja qual for o resultado da eleição. E Virgínia enfiou de volta o livro na bolsa.
A foto que é a maior expressão da democracia, de alguém ao lado da urna de votação (como muitos fizeram hoje de novo, inclusive eu), começa a ser proibida. 
Dizem que há mais rigor com o cumprimento das leis porque no primeiro turno bolsonaristas fotografaram armas em cima da urna.
O assustador é que agora o veto acontece quando a arma erguida é um livro. E de uma autora feminista.

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