A resposta de Carlos André

Publico aqui a resposta do jornalista Carlos André Moreira, na continuação da controvérsia sobre Carlos Heitor Cony (este comentário abaixo foi publicado no perfil dele no FaceBook).

E logo depois a minha resposta publicada no mesmo perfil dele, para encerrar o debate pela parte que me toca.

“Moisés Mendes, vi nessa história a repetição do bom e velho problema da crítica estética politicamente orientada. Como comentou um dos teus interlocutores lá no teu espaço, esse é o mesmo pensamento que legitima o acosso a Chico Buarque, o boicote ao Aquarius, etc. Mesmo a tua crítica ao Cony parte de um ponto de vista politicamente interessado. Digamos que eu, por exemplo, não tenha problema algum com as críticas dele à esquerda (são uma manifestação política ainda autorizada, não?). Para mim, o fato incontornável que macula a biografia do Cony é aquela indenização que ele pleiteou, levou e aceitou, mas ninguém, nem tu, achou bom falar disso porque ela levanta um problema que a redemocratização teve e que os críticos DE esquerda (não confundir com os críticos DA esquerda) preferem não endereçar: a insistência na reparação financeira em vez de na punição dos perpetradores (o que nos leva, 20 anos depois, à possibilidade do discurso dos “excessos dos dois lados”). Mas isso não é politicamente interessante de falar, então ninguém falou. E isso, pra mim, só transforma o Cony num dinheirista oportunista que não teve vergonha de se beneficiar de uma falta de critério do sistema, mas não muda uma linha do que eu senti lendo seus livros, e eu privilegiei isso no momento em que o cara morreu. Não me parece difícil de entender o que eu escrevi e minha motivação… Ah, e te respondo aqui, e não lá na tua página onde tu jogou meu nome para a tua claque – algo que eu também te achava bom demais pra fazer, mas vá lá”.

A minha resposta no face do Carlos André:

“Andrezito, só publiquei na minha página pra me exibir, porque posso inticar contigo por admiração e amizade. Mas a minha claque tem que saber. Ainda acho que autor e obra separados são conversa de anos 80, por aí. E concordo que o Chico tem mesmo que levar porrada da direita. Eu queria levar mais porrada da direita, mesmo que não tenha obra nenhuma a ser confrontada com o que penso. E há indenizações e reparações, mas aí é outra conversa. Em 99%, concordo contigo e te adoro, tu sabe (e aqui eu misturo muito obra, autor e afetos)”.

 

One thought on “A resposta de Carlos André

  1. Não consigo entender muito essa separação. O Cony não era basicamente cronista? Não era pelas crônicas que ele emitia suas opiniões? Comentar sobre as opiniões emitidas n as crônicas não é comentar a sua obra? Também acho que esse papinho de que “obra tem que existir por si mesma” é muita masturbação academicista. Sempre se julga o conteúdo, sempre, até porque o conteúdo quase sempre faz parte ou está integrado com o estilo.
    Analisar o Chico Buarque no que, se não for pelo que ele diz? Nas melodias, que são muito boas? Na estilística elaborada do samba? Tudo isso sem o que ele diz seria papo de músico, não teria o significado amplo que ele obteve.
    Ademais, pelo visto o André Moreira não entendeu teu comentário, ficou com raiva. E, por último: também admiro absurdamente o André moreira, é um dos melhores caras que escrevem sobre livros, não há nem sombra de dúvida.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Website Protected by Spam Master


2 + 4 =