Na Kombi com Elis
Estamos todos na Kombi da Elis, da Maria Rita e do Belchior, uma Kombi já abarrotada de controvérsias.
As reações são previsíveis e compreensíveis. Mas se a crítica ao comercial fosse ampliada, não haveria propaganda de quase nada.
São mais de 60 as empresas identificadas, com provas, por colaboracionismo com a ditadura. A Volks é uma delas.
São milhares, de todos os portes, as que colaboraram com o golpe contra Dilma. Também são incontáveis as que tentarão derrubar Lula.
Grandes marcas mundiais ainda são denunciadas até hoje por vínculos com escravismo ou trabalho degradante. E muitas têm propagandas com uma musiquinha ou um musicão desses de fazer chorar.
As grandes marcas não plantam rosas nem produzem mel.
Vi, revi, chorei. Até tentei ser ranzinza e achar defeitos nos meus arquivos de argumentos do século 20, mas a emoção passou por cima de qualquer esforço feito em nome de alguma racionalidade.
A propaganda me emocionou porque também me pega por uma falha grave de caráter. Nunca dirigi uma Kombi. Aprendi a dirigir num desses jipes que o Exército vendia para civis, nos anos 70. O jipe do meu irmão Moacir.
Também pilotei jipe DKW, Ford 100, Chevette, Fusca, moto CG 125, Fiat 147, Palio, Gol. Mas nunca dirigi uma Kombi.
Agora, a Elis dirigiu uma Kombi pra mim. E eu só consegui me emocionar. Mas deve ser por causa da idade.
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Se a Elis na Kombi deu esse bafafá (decidi usar uma palavra do tempo da Kombi), imaginem uma propaganda de lançamento do novo Chevette, com música do Amado Batista.
E dá pra pensar na sequência como seriam os roteiros e as trilhas dos relançamentos do Gordini, da Rural Willys, do Simca, do Opala, da Brasília, do Corcel, do Gol a álcool com dupla carburação, do Fiat 147.
Revi agora a propaganda da Kombi e chorei de novo. Se enxergar uma Kombi na rua, não sei se não saio correndo atrás.
Tinha uma Kombi azul aqui na Aberta dos Morros, que não tenho visto. As Kombis nos levam para nossas melhores memórias. Essa Kombi azul precisa reaparecer.
Pode dizer o que quiser, mas é realmente emocionante ver filha e a imagem da mãe cantando juntas enquanto dirigem kombis novas e velhas.
Ah é Deep fake! Não tem problema, é emocionante igual.
Ah, foi contra a democracia apoiando a ditadura! Tudo bem, outros tempos, a emoção é mesma.
Enfim, pega pela emoção principalmente gaúchos, mas tenho amigos de outros estados que viram e se emocionaram igual.
Enfim, linda homenagem. Até penso em comprar uma kombi. A velha, pois a nova nem tem e quando tiver será um caminhão de dinheiro por ser elétrica e cheia de tecnologia. Uma velha Kombi já me serve para me emocionar, não precisa nem andar, é só para eu entrar dentro quando estiver meio down, ficar uns minutos dentro e sair tri legal.
Boa-tarde!
Elis era uma pessoa fiel a seus princípios, aos seus amigos (que eram bem poucos) até onde eu sei. Naquela época em que ela morreu, em plena campanha pela redemocratização, com um saldo de mortos, e por tudo o que ela defendia, ela jamais faria essa propaganda. Pessoas leais que viveram uma ditadura aonde muito de seus colegas sofreram tortura, banimento, desaparecimento e mortes confirmadas, jamais numa democracia iriam lucrar com seus algozes.
Poesia em prosa.
Pura poesia.
Que faz chorar, como essa belezura de peça publicitária de altíssimo valor artístico, já histórica.
Belíssimo texto, de chorar, como as imagens e as músicas.
Não podemos ser babacas “canceladores” de tudo o que for contra nossas “convicções” e saberes sei lá se tão sabichões.
Maravilhoso texto, de guardar para chorar mais vezes, com prazeres e dores