Ninguém mais assobia

Sou do tempo em que as pessoas assobiavam na rua, no carro e até no ônibus. Os jovens gostavam de assobiar no Rosário e no Alegrete. Eu fui um grande assobiador.
Agora, vejo que eles falam cada vez mais quando estão sozinhos. Tem gente nova falando sozinha como nunca vi antes.
Penso nisso tomando meu mate com carqueja de Belém Novo, porque meu amigo Duda Pinto me prometeu carqueja de Livramento, do entorno do Cerro de Palomas, e até agora nada.
Pois ando pelo centro e vejo guris de vinte e poucos anos dando com as mãos e falando sozinho.
Deve ser efeito do WhatsApp. Como não falam mais ao celular, mas teclam sem parar, eles falam com eles mesmos. Não, não se trata de acompanhar a música ou de falar ao celular com fone de ouvido. É falar sozinho mesmo, é balbuciar pensamentos.
São adolescentes enfrentando seus dilemas em voz alta e ficando velhos antes do tempo. Esses dias, perto de casa, vi um jovem falando sozinho e ele notou que eu tinha percebido. Ficou constrangido e foi em frente. Olhou duas vezes para trás. Eu falei sozinho: tá tudo bem, não liga.
Um país em que um jovem fala sozinho deve ter alguma coisa errada. Só falta eles começarem a caminhar com as mãos pra trás, uma segurando a outra. Eu gostaria de ver de volta os jovens lá daquele inverno de 2013. Mas eu já sou antigo. Sou do tempo em que as pessoas assobiavam.

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